Existem pessoas que vivem no passado.
Outras no futuro.
Raros são aqueles que vivem no Presente.
Tempo.
Quantidade ou medida arbitrária da duração de fatos ou coisas.
Série ininterrupta e eterna de instantes.
O que você pôde, fez e pode vir fazer.
Aquilo que você se arrepende, se orgulha, se recorda ou almeja em fazer.
Tempo.
Hoje tive uma experiência de tempo. Tive pensamentos acerca do que são, se é que são pensamentos publicáveis. Afinal, tudo aqui é jogado de forma abstracta e cabe a cada um avaliar sobre seu julgamento.
Presentemente, estou vivendo no passado. O que fui, aquele que não se mudou nem precisará eventualmente de mudar. A forma bruta. O diamante imutável. E hoje em dia, ainda o sou, apesar de aparado nas formas.
Estou vivendo aquilo que já vivi, um deja-vù, por assim dizer. Mas um deja-vù tão...real, que posso sentir cada palavra falada, demonstrada ou até mesmo ocultada. É como um ar que me preenche, e só tenho de o...respirar. E assim sei onde estou e como estou.
Ás vezes eu queria não respirar, sabe? Como aquela trilha de fumaça dos carros, ou aquele esgoto aberto, com tanta podridão. Ás vezes eu queria...parar de respirar.
Sim, queria não poder respirar, queria passar aquilo despercebido. Mas afinal, somos seres vivos, como podemos não respirar?
E assim, quando respira, sente uma lufada de vários ares horríveis tudo de uma vez, e pensa : "- Como eu queria ter respirado devagar, para não sentir tanto."
E ai, o tempo age, irremissível.
Fazes decisões que para sempre, te lembrarás. Directa ou indirectamente. E cada vez que passares por um cheiro que não te agrade, respirarás lento, desgostoso.
Mas respirarás. E viverás outro dia.
Um futuro. Um futuro perfeito, onde lições serão aprendidas, laços criados e, irrevogavelmente, um destino.
Mas não um pressuposto destino, um que te foi criado, desenhado, esculturado.
Não. Um destino adaptativo. Maleável.
Aquele que quando é te posta uma decisão, o mundo pára para a ouvir. E quando a ouve, tece as leis da tua existência. Mas ele sempre está pronto para o futuro, tem sempre as correntes prontas, para te prender a tal decisão.
E assim vives, cada dia com uma corrente.
Sentes-te pesado, e lembras-te como aquela série era boa, como todos os dias vias aquele mesmo programa, como aqueles brinquedos te faziam bem. Como sorrir era bom.
Acordas. Olhas ao redor e vês prateleiras com livros, uma secretária onde supostamente dormias, com um livro de matemática aberto, podias até sentir uma equação na bochecha.
Queres acordar, acordar de uma realidade que estás bem acordado. Esfregas os punhos nos olhos, cambaleais até uma pia e lavarás teu rosto. Ouves a água correr, mas rapidamente a fechas, sabendo de como o mundo está. Muitos com pouco, poucos com muito.
Mas nada. O quarto é ainda o mesmo. Perguntas-te como sairás dali, dormes novamente para uma tentativa de reaver o que passou? Ou fazes um futuro no qual te orgulhes?
E assim te sentas, e tentas resolver a equação universal. A que estava marcada na tua bochecha.
Tempo.
Sempre desejado, por seus passados e futuros. Mas nunca por seus Presentes.
Afinal, que é o Presente? Isto? Ah, já passou. Viu? Não? Normal, faz outro que te lembres depois.
Vive-se assim. Do passado para o futuro, do futuro, aprendes pelo passado e no passado, almejas um futuro.
Fim.
Não tem espaço para o hoje. Não tem espaço para o seu Presente. Rejeita-se o Presente por pura...necessidade.
Se temos o passado para nos lembrar, o futuro para irmos, o que sobra para o Presente?
A vida.
Afinal...tua vida seria, na mais pura das formas, um presente.
A vida, que deixas passar por espelhos do passado e binóculos do futuro, é um presente.
Um Presente que geralmente nunca aceitas. Sempre deixas passar. Como aquela roupa feita pela tua avó. Ou aquele gorro desnecessário para o Verão.
Esqueces-te da felicidade. Esqueces-te que é o teu Presente.
E ninguém vai te o tirar.
Podem o mudar, ocultar, desaprumar, mas sempre vai ser teu.
Para sempre, e sempre, e sempre.
Até além do Presente.
E assim tu olhas novamente aquele presente pequeno e empoeirado. Com o teu nome denotado no centro.
Sorris inocentemente. Cai-te uma bágoa quente e te escorre pelo rosto púbere, amargurado ou adulto.
E ali estás tu, marcado pelo presente. Presente.
Tudo parece curto demais depois disso. Olhas para teus pais com um olhar noviço, eles estranham aquele inocente olhar e te perguntam que tens. E não consegues responder.
Só consegues dar aquele sorriso. Aquele sorriso que guardaste com tanto rancor, devido ao Tempo.
Abraças todos, sem dar explicações e...és Tu.
Sem mais nem menos. Sem passado nem futuro.
És tu, és um presente, o Presente.
E assim, deixo aqui mais um fio d'ouro. Memórias, pensamentos.
Always yours, Soul.
quote "Que é o Presente? Isto? Ah, já passou. Viu? Não? Normal."
ResponderEliminarDesculpe mais eu ri. EUAHEUAHEU.
Parabéns, tá ficando cada vez melhor! =D