terça-feira, 19 de abril de 2011

O Começo.

Parte II - Anjo.



Conseguia ver tudo claramente, como se estivesse dentro de James, podia sentir o que ele sentia, ver o que ele via, ouvir seus pensamentos e até mesmo dar pensamentos a ele. Mas será que ele me notava? Será que ele me ouvia suspeitando de outra pessoa?
Por um momento, olhei em volta. Era uma sala branca e quando olhava para a frente, conseguia ver o que James via, como uma tela.
Mas agora a imagem "freezara", congelara.
O som dos pensamentos era resposto por passos, vários passos.
Depois, o silêncio absoluto.
Agora, essa sala tinha uma porta, atrás de mim.
Uma porta que eu fiquei curioso em saber o que havia por detrás, mas, principalmente por ela estar com a maçaneta mexendo.
Até abrir.
Quando abriu, 3 personagens curiosos foram entrando, não eram alados, eram normais.
Falando nisso, não me sentia naquele lugar especial. Aquele depois de minha...morte?
Enfim.

- Dae manin'. 'Tá mais suave?

Disse um gigante, com um cabelo branco, com uma jaqueta vermelha, calças castanhas e botas afiveladas.

- Erhm...Estou.
Que fazem aqui? Isto é meio pessoal.

Disse, aquilo era meio que uma invasão de privacidade de...suas lembranças.

- Ótimo, outro retardado que eu tenho de aturar. Pff.

Um ser igualmente gigante, se pronunciou, na verdade, o que mudava neles era a roupa, que deste era azul e seu cabelo, que o gigante mais amigável era liso, este que tinha mais raiva na voz, espigado, revoltoso.

- Quietos vocês dois, ele ainda está confuso.
Boas meu jovem.

Agora um homem mais maduro, nos seus cinquenta mas fisicamente perfeito falou com sua grave voz, chegava até a ser detalhista.

- Erhm...Boas. Querem me explicar o porquê de vocês estarem aqui?

- Ah, bem, nós "vivemos" aqui. Ou fomos criados para isto, não sei.
Ainda assim, somos parte desse jovem ai, que você assistiu e tomou rumo, correto?

Se sentia estranho, algo nesse senhor era familiar. Os outros dois também, embora estivessem mais preocupados em demonstrações de afeto familiar, como socos e chutes.

- Como que...sabe disso?

O homem apenas suspirou, ouvindo os socos e chutes dos outros dois.

- Vergil, Dante, parem, por favor?

Vergil, o de azul, estava preso em uma chave de pescoço pelo mais alegre, Dante. Que insistia em dizer :

- Pinico, V, pinico!

Mas logo o soltou, o que fez Vergil resmungar em sussurros, ao ouvir a voz do homem.

- Quão estraga-prazer, Nero. Bah.

Disse Dante, sorrindo para o tal Nero.

- Teu sorriso chega a ser irritante de tão cinico, pode parar.
Enfim, meu jovem, sabemos porque fazemos a mesma coisa, quando somos "chamados".
A diferença é que ele gosta mais de conversar contigo, és o mais..."politicamente" correto.
Eu converso com ele sobre negócios, Dante em lazer, Vergil com pessoas que ele não gosta.
O resto, é contigo.

Minha cabeça estava em água...Afinal, o que era eu? O que realmente eu estava ali fazendo?

- Mas e agora, porque estamos todos aqui?

- Ah, já que James não precisa mais de conversar contigo, aproveitamos para nos conhecer...

Disse Nero, esperando um nome...Mas eu não sabia meu nome, nem sequer isso...

- Erhm...Angelo. Pode me chamar de Angelo.

Finalmente falei, me lembrando de minhas asas, que curiosamente já não existiam em mim.

- Bem, Angelo, bem vindo a sua nova casa. Aqueles dois são Vergil, o de azul e Dante, o de vermelho.
Sou Nero, como Dante disse anteriormente.

- Dae manin', bem-vindo a esse troço aqui. Agora quando ele for no banheiro, tu que trata dele, suave?

Disse Dante, rindo alto.

Vergil e Nero pareciam menear a cabeça.

- Esse retardado é meu irmão, eu sou Vergil. Só não me enche muito o saco como esse escroto que não morre...rápido.

Disse o mais frio, era de ter medo daquele sombrio personagem.

- Mas então somos várias pessoas dentro de um...ser humano?

Concluí, afinal, pelo que eles falavam, era uma vida ali presente.

- Sim, e se ele morrer, morremos também, é assim que funciona.

Estremeci um pouco com isso, não era viável morrer denovo...Mas tinha algo estranho ali.
Eu me vi, morrendo. Já vi isto, já vi o que ele vai fazer só não...Me lembro.

- Então nós "ajudamos" ele a tomar decisões, é isso?

- É.

- Hm.

- Enfim, pense um pouco, ele não vai precisar de ninguém agora, deve ter formado uma linha de pensamento, então se quiser falar conosco, estaremos por aqui.

E por fim, o homem extremamente educado, se retirou, com uma leve referência.

Algo me fazia pensar, afinal, ele, "James", só tinha me visto agora, só tinha falado comigo agora...E os outros anos, quem tratava de minha função? "Das outras coisas"?
...
Tudo era estranho, mas, mais explicado.
Agora, sabia o porque de várias coisas acontecerem.
Não sabia o como e porque estava ali, mas sabia que era algo para lhe ajudar a resolver o passado, a vida, morte.
Quem sabe, eu tenho de ajudar ele a conseguir "Ela".
Essa garota tem a mesma coisa que ele, e eu consegui ver alguém dentro dela...Alguém pedindo socorro.
Mas como socorrer alguém, se eu mesmo estou perdido?...
Não sei, mas vou saber.
E, deitei-me, um estranho sono me abraçava, assim como o jovem de azul e o homem mais maduro, quem parecia acordado era Dante.
Mas não importa.
E assim, dormi, pensando no que eu estava, onde eu estava.
Preso a uma vida, preso a um destino.




O Começo.

Parte II - James.


À medida que os dois gênios duelavam, o sol ia amadurecendo, e de uma brisa agradável, um calor foi sentido. Era 3 da tarde, eles tinham ficado horas a fio se "conhecendo" dentre irônias e línguas afiadas.
"- Engraçado, perdi a hora, não costumo fazer isso."
Disse James lançando um olhar ao exterior da loja.
"- Você se distrai fácil demais. Ou é fácil demais."
Disse Ravena com um certo tom de deboche e provocação.
"- Ahah...Mas então, não ficarei por aqui por muito mais tempo. Almoçaria comigo, Srta. Ravena?"
"- Ah, você está comprando minha companhia, é isso?"
"- Na verdade vou tentar almoçarmos de graça, dinheiro que é bom, está em falta."
Ele riu de sua "pobreza".
"- Um galã barato, com uma aparência no mínimo enfermo e pobre? Pode ser o melhor dia da minha vida..."
James limitou-se a balançar a cabeça negativamente, como se não acreditasse.
"- Quanta raiva de alguém amigável. Tem medo de se distrair fácil demais, é, Srta?"
A garota aquiesceu e como se tivesse ignorado a pergunta, replicou.
"- Bem, hoje eu não ia almoçar tão cedo, mas, já que insiste..."
James deu um longo sorriso, satisfeito com o que adquirira ali. Ele pode sentir um meio trêmulo da mesma, depois uma tosse.
"- Está bem, Srta?"
Ela limitou-se a pigarrear e falou, segura de si, mármore.
"- Pode parar de me chamar de Srta? É chato e inconviniente, já que lhe dei meu nome."
Ele riu.
"- Ravena. Vamos?"
Estendeu a mão, cuja recusada e retraida, dando espaço para a garota levantar-se e ir frente ao caixa.
Sobrou apenas um suspiro e um sussurro, mais para si mesmo.
"- Primeiro as senhoras..."
A garota se recompunha, à medida que andava, um sorriso de James tinha a deixado, mesmo nem ela sabendo o porquê, mas sem ar.
"- Quanto foi?"
Disse a ruiva disfarçada, com um gentil sorriso que nem mesmo James, com tantas horas de conversa conseguiu um sorriso desses.
"- Três e sessenta, moça."
Ela, do bolso traseiro de sua tirou uma nota de cinco e deu à atendente, Ana, que tinha falado o preço.
Claro que James seguia todos os "passos" de Ravena, até mesmo uma olhada rápida para o seu bolso traseiro, o que o fez mostrar os caninos de satisfação.
James seguiu frente a Ana e, sem nem mesmo falar, apenas dando uma nota de dez reais, a garota recebeu e deu um sorriso, cujo foi retribuido pelo de James.
"- Até amanhã, Ana, bom trabalho."
"- Obrigado senh-...James."
Ele riu e finalmente saiu do local, vendo já Ravena a uns passos à frente.
Suspirou novamente e correu um pouco, se igualando à posição da garota, assim como a passada.
"- Você é assim tão "quero deixar ele correndo atrás de mim" assim? É que tá dificil manter o passo, sabe, para não dizer o contrário."
Disse, meio que rindo.
Logo, a garota parou, semi-cerrou os olhos e deu-lhe um beijo na bochecha, repentino.
James ficou estático com os olhos esbugalhados, centrados nela.
"- Você é fofo. E bem inteligente até. Quem sabe eu erre sua bochecha daqui para o final do dia."
Disse ela, contribuindo para o enrubescer do jovem mafim.
O pobre do garoto não sabia como lidar com aquilo, sempre estava no controle, sempre sabia o que fazer e aquelas súbitas mudanças de humor da garota acabavam com ele.
"- Ah, não quer mais ir almoçar?"
Disse ela, com um meio biquinho.
"- Erhm, c-c-claro."
Pigarreou, assim continuando para um restaurante ali perto, se conformando com o que acabara de ocorrer.
A garota sorriu, um primeiro sorriso que quase fez James cair por ali mesmo, mas por algum ato divino, ficou de pé e continuou a andar, retribuindo com um sorriso meio acanhado.

Chegando ao restaurante, o rígido James se soltou um pouco, vendo seu amigo no restaurante, a garota estava andando do lado dele, calada.
"- JAMY, come tu sei il mio amico!?"
James subiu uma pequena escadaria até abraçar o grande amigo Italiano dele, Lorenzo.
O tamanho do corpo daquele gigante era proporcional ao coração daquela criatura. Tinha sido seu pai por ali, cuidara e ensinara quase tudo que sabia a James, mesmo tardio.
"- Ah Lorenzo, vou bem meu amigo. E tu, os negócios, como é que vão?"
"- Bah...Questa mierda è sempre la stessa cosa...Mas "si" tuto vai benne."
James riu, e olhou para a garota, ou Deusa que estava do seu lado, com uma curiosidade calada.
"- Lorenzo, esta é Ravena. Ravena Portinari."
"- AHHA! La Divina Comédia, si? Piacere, signora."
Lorenzo logo pegou na mão da garota e a beijou com seus típicos bigodes de Chef, enrolados.
Ravena parecia se divertir com aquela situação e se pronunciou, finalmente.
"- Grazie Lorenzo, sei molto gentile."
Com um sorriso de tirar o fôlego, ela agradeceu, mas a pronuncia melodiosa dela fez o grande Chef quase chorar.
"- Ah...De Venezzia...Bela Venezzia. Jamy! Por esse presente que me deu, vamos comer juntos hoje, que me dici?"
A pronuncia portuguesa dele era forçada, mas compreensível.
"- Claro, claro. Hoje estou sem dinheiro, os livros não estão lá muito bem também."
Disse James, sincero, o que fez Ravena estremecer um pouco, ele escrevia.
"- Ahah. Sabe o que tu necessità? De una musa."
Ele olhou de relance para Ravena, como um sinal, que ela fingiu que não viu.
Isso fez James rir, sonhar, mas rir, para sacudir a pressão ali.
"- Quem sabe, meu amigo, quem sabe."
"- Mas poi, vou nos preparar una bela massa! Ahah! Felicitá, felicitá!"
Deu dois tapas na nuca do rapaz, uma reverência para Ravena e se retirou, mais leve que parecia.
Restou James coçar a cabeça, como se estivesse meio envergonhado com a situação.
"- Me desculpe com a animação dele. O coração é maior que o seu corpo."
Ela apenas riu, divertida com a situação.
"- Não se desculpe, ele é um amor."
Seu sorriso era pacato, acalmando a euforia que o mesmo sorriso causou a James, era incrível.
E pensando mais claramente, James voltou a si, galã, afastou-lhe a cadeira de uma mesa próxima, para se sentar.
"- Cavalheirismo?Essa é nova."
Ela riu e, após isso, se sentou, ajeitando-se à mesa.
James deu uma leve risada e se sentou na frente dela.
"- Mas...então...Como consegue?"
James perguntou, fascinado.
A garota fez uma cara de quem está confusa.
"- Não estou seguindo sua linha de raciocínio."
"- Isso de...Muito fria, muito quente. Animar, acalmar."
"- Ah, eu te causo algo?"
Fingiu um ar surpreso.
James semi cerrou os olhos, como um falso olhar mortal.
"- Quem brinca com fogo, se queima."
"- Se eu me queimar, nunca mais me aproximo."
Ela falou, seca. Mas ainda assim com um tom calmo e um sorriso no rosto.
James conseguiu estremecer com a indireta, ou direta.
"- Hm."
A atenção da bela jovem foi tomada por Lorenzo, que vinha, pelo cheiro, com suas melhores massas em três diferentes pratos, pôs um para James, Ravena e em um lugar vago, se sentando, do lado de James.
"- Ahah! 'stá massa esta divina!"
Disse enquanto gesticulava um beijo na ponta dos dedos, exclamando a satisfação, com Lorenzo era impossivel manter algum pesar, tristeza ou pensamento. Era alegre demais para atrair qualquer coisa.
E, enquanto comiam, Ravena trocava informações com Lorenzo acerca de sua terra, que, de vez em vez se emocionava e contava histórias de amor, um verdadeiro Italiano.
James ficava calado, entendia italiano, mas não falava muito, então ficou centrado na conversa, mas, principalmente na bela garota que conhecera...Uma Deusa na terra, embora que ele não demonstrasse isso.
E assim passaram a tarde, juntos, falando de tudo e nada.
Com uma doce troca de olhares entre Ravena e James, enquanto Lorenzo gesticulava, revivendo suas memórias, extasiado daquele seu passado.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Começo.

Parte I - Anjo.



A vida aqui era bem mais fácil mesmo.
Não tinha guerra, discordância ou problemas.
A sociedade era perfeita e tinha alcançado seu limiar.
Tanto é, que o homem podia voar.
Mas mais importante que isso, ele podia reviver aquilo que achou que não viveu. Lembrar-se daquilo que achou ter perdido.
E eu, particularmente quero me lembrar de um dia que reconheci alguém, alguém que poderia me mudar, me tocar...Ou me tocou.
Lembro-me da manhã que ia comer fora, de ler óbitos e tomar meu Café.
Mas me lembro principalmente do Encontro com a garota.
E nossa, como ela era...Perfeita.
Ela conseguiu mexer comigo, Dante, Vergil e Angelo ao mesmo tempo.
Nunca teve alguém que conseguisse mexer com um, imagina com quase todos.
Mas não importa, tem coisas que ela disse que quero escutar novamente.
Quero a intensidade emocional a seu máximo, quero me lembrar de um dos maiores dias que eu tive.
O nome dela veio da mesma origem que o meu...não?
Deve ter vindo. Italianos...sempre prezando pela sua cultura.
Mas o melhor não é isso.
O estado da mente dela é quase igual ao meu. Mas ela conseguiu me ver, perfeitamente.
Agora eu, não conseguia acompanhar o ritmo dela...Porquê?
Seria porque eu estava perdido em uma imensidão de pensamentos? Será que o meu sangue estava jorrando para esquentar as mãos gélidas dessa garota?
Não sei.
Tudo que eu aprendi, tudo o que eu ensinei, ela já tinha aprendido.
Ela me leu, é isso?
Ela conseguiu realmente me ler e eu, tão supremo de mim, não vi?
Droga, droga.
Era ela, não era?
Eu deixei-a passar.
Deixei?
...
A praia...Aquele perfume.
Desde que eu me encontrei com o Ceifador, tem sido mais difícil.
Suportável, porém difícil.
Ela pode ser a chave para minha paz.
A chave para saber o porquê da minha morte, não?
Talvez...Talvez se eu...
Mas seu cabelo não era ruivo, era? Era...Castanho. Castanho-loiro.
Aquela sensação de paz, porém, era igual.
Ela sentia por mim. Ela realmente conseguia sentir por mim.
Eu não precisava fingir, ou usar algum amigo para...
Amigo.
Ela perguntou se a cadeira era para um amigo...
Ela...Sabe?
Como ela possivelmente poderia saber?
Mas eu via a coexistência nela, o amor e a mente em perfeita sintônia.
Seria possivel, seria algo almejável humanamente?

Talvez se eu sonhar...Esclarece, talvez.
Segredos que irão se revelar com o Tempo.

Mas...Vou me ater ao que sei.
Estou vivenciando algo que passou.
Com o aprendizado etéreo.
E com vários estados da mente, presentes em duas pessoas, em unissono.
Sinto que estou perto de descobrir algo, mas não sei o quê.
Tenho de ajudar ele, mesmo sabendo que já passou.
Vou voltar, vou tentar trazer tudo junto.
Talvez assim não tenha o mesmo destino mortal, em alguma poça imunda.
Eu vou alterar isto. Eu vou encontrar Ela.
Eu prometi.





































































Aqui está segredos, sonhos e pessoas perdidas na mente do anjo, encontre e esclareça esses relatos, que estão fazendo este sonho do Anjo, virar um pesadelo. Ajude-o. Ajude-me.

O Começo.

Parte I - James.

Segunda-feira.
Uma manhã de segunda.
O sol acariciava lentamente a pele do jovem James.
A pele irritava-se com os raios matinais, assim como sua mente, ao perceber o que aquilo queria dizer.
Acordar.
Logo o despertador iria tocar, e se ele quisesse começar bem o dia, não o podia deixar grasnar.
E foi o que fez, em um movimento preguiçoso esbarrou com o braço no relógio digital, impedindo o gritar das sete horas.
E ficou assim, por mais uma meia hora, até que o sol esbofeteou-lhe o rosto áspero.
Com mil resmungos, o rapaz finalmente se sentou em sua cama, com uma mão tampando-lhe o olho direito, como se quisesse parar a dor de cabeça matinal, mas, orgulhoso, apenas deslizou sua mão até ao cabelo, penteando-o e posteriomente agarrando-se à lateral da cama.
"- Arg...Bem que tu podias me dar um descanso de vez em vez, que tal? "
Disse com um tom rouco de deboche com direito a um "tsc" final.
Após meditar um pouco sobre sua situação caótica, decidiu se levantar rumo a seu banheiro.
Fechou a porta de madeira, trancou-a e se deparou com a pia, torneira e um pouco acima, um espelho.
Não costumava olhar-se muito no espelho, então, se estranhando, passou sua mão desde seu queixo até sua bochecha, sentindo algo ríspido e, no conceito visual dele, grande demais para ficar por lá.
Arqueou sua coluna, fazendo a estalar, olhou para cima, forçando o pescoço a fazer o que sua coluna fez, continuando com os ombros, braços e dedos.
Quando ficou satisfeito com aquilo, ligou o chuveiro, que era a uns cinco passos da pia, dois do vaso sanitário.
Como James, o chuveiro resmungou, mas não tardou a obedecer-lhe e começou a jorrar água escaldante.
O jovem pôs uma mão corajosa no fumacento jato d'água que, curiosamente, aceitou sua temperatura.
Tirou o resquício de roupa que tinha e entrou vagarosamente para dentro do cubículo.
Molhou seus braços, para acordar um pouco, depois entrou por debaixo do chuveiro, soltando um "Ah" de relaxo.
Apoiou suas mãos contra a parede na frente e aproveitou o jato em sua nuca para pensar o que faria hoje, ou se faria algo.
Lembrou-se que nada tinha para comer e que hoje estava curto de paciência para ver o "Mais Você" e logo prontificou-se a tomar a decisão que teria de comer fora.
A ideia de ter de gastar uns extras pela sua preguiça ou falta de paciência lhe incomodava, mas quem sabe o dono de seu restaurante favorito estivesse para isentar-lhe das despesas...Se tivesse sorte..
Passou seu shampoo, condicionador e seu sabonete e enxaguou-se, após isso, desligou o chuveiro, tirou sua toalha e secou seu cabelo e corpo, respectivamente.
Enrolou a toalha em volta de sua cintura e saiu do banheiro sacudindo seu cabelo, respingando água ao redor.
Abriu sua gaveta onde estariam as camisetas e o que viu a seguir foi um deleite aos olhos.
Sua favorita camiseta, um vermelha com toques dourados e pretos.
Um presente dos Deuses, quem sabe.
Vestiu-a com umas Jeans básicas, calçou seus sapatos confortáveis e tratou de tudo para sair.
Não iria de carro, era perto demais.
E assim caminhou uns dez minutos até alcançar onde geralmente comia um bom café-da-manhã.
Cumprimentou a atendente de sempre, que lhe retribuiu com um gentil sorriso e uma indagação profissional.
"- Bom dia Senhor James. Como está?"
"- Bem obrigado, Ana. E porquê insiste em me chamar de Senhor? Sou assim tão velho?"
Retrucou com um sorriso. A garota soltou um suspiro.
"- Desculpa "James", nem todos os clientes que temos aqui são como você."
"- Vou levar isso como um elogio, querida. E não precisa se desculpar."
James podia sentir o tom que clamara seu nome com respeito, mas não era necessário. Ser funcionário daquele lugar onde iria todos os dias era como se fosse de sua familia...Já que nem sua familia o teria visto tanto quanto os funcionários daquele local. Triste, mas não deixava de ser verdade.
E com a réplica do jovem James a garota deu uma leve risada.
"- Ali está sua mesa como sempre, jájá vai sair o café, faço questão de trazer a primeira xícara."
"- Ah, você sabe como levantar minha moral, querida. Agradeço-lhe bastante."
E com um sorriso, James foi até seu localzinho, onde tinha nada mais, nada menos que um jornal o esperando.
James se sentou, observando o local, ele gostava muito deste específico local.
Não era apenas a paz, tranquilidade e o fato "perto de casa" que o atraiam.
Era o pessoal e a música bem fora do padrão de hoje em dia.
Variava de Mozart para AC/DC, mas nenhuma música ruim e incrivelmente, todas tinham um timing perfeito para seu humor.
Após uns parágrafos de óbitos no jornal, como era de costume, James recebeu seu prometido café e logo pôs seu jornal de lado, pronto para tomar aquele forte café que apenas ali conseguia saborear com perfeição.
"- Daqui a meia hora serviremos a comida."
James apenas sorriu como resposta e a garota logo se retirou para seu cabinet para atender outros clientes assíduos dali.
Ela deveria ter uns 18, 19 anos. 5 ou 6 a menos que James.
Relevando isso, James pegou em sua xícara, elevou-a até seus lábios e cuidadosamente bebericou o café, para não se queimar.
Perfeito, como sempre. A excelência neste local era outra coisa que lhe agradava.
Fatias de pão e uma dose de manteiga eram também servidas na mesa, o pão, também, ainda quente.
Com uma faca que se prontava do lado da cestinha de pão, James apenas barrou seu pão com a tal manteiga, deu uma mordida, saboreando ambos e após engolir, deu um gole em seu café, extasiado com a mistura de sabores.
Mas tinha algo, hoje, que James nunca haveria se deparado.
Uma garota, uma cliente nova.
Nunca a tinha visto pelas redondezas, muito menos no local predileto dele.
Seu cabelo era um ruivo bem disfarçado, quase moreno.
Os olhos, embora longe, pareciam cintilar, seus lábios eram supreendentemente vermelhos.
Sua pele era quase albina, não parecia alguém das rendondezas, mesmo.
O único que teria essa cor seria o próprio James.
Curioso, James observara a estranha e sedutora novata.
Vez em vez dava meio ou um gole no ainda quente café.
O interesse surgia crescente em seus pulmões e coração, suas veias pulsavam instinto e, quando não pôde mais aguentar, bebeu o resto de café que tinha em sua xícara e levantou-se de seu lugar até à estranha beldade.

Ela notou a presença do mesmo, no instante que James posou o olho nela, mas foi discreta o bastante para disfarçar, enquanto esperava o café, fingia se maquiar no espelho que trazia na bolsa para confirmar o olhar do curioso cliente que ali se prontava.
Mas o desconforto foi maior quando o viu vindo em sua direção, sair da mesa não era uma opção, quem sabe o afastar com palavras seria mais proveitoso.

O jovem então chegou perto da mesa da estranha "intrusa" e sorriu-lhe com ternura, doce como mel, indagou-lhe.
"- Desculpe-me Senhorita, mas esta cadeira está vaga?"
"- Se for para usar para um amigo seu, ou amiga, está, se for para me incomodar, está muito ocupada."
A garota respondeu-lhe com um tom seco, frio e áspero, quase como se quisesse cortar o assunto pela raiz.
O garoto pôs uma mão no peito, como se alguém tivesse acertado seu coração, brincando, disse com um tom irônico.
"- Outch, essa doeu. Será que hoje em dia duas simples pessoas não podem ter uma conversa saudável acerca do clima e estupidez humana?"
A garota riu levemente com a irônia sentida, talvez o bonitinho não fosse tão estúpido como pensara.
"- Pode sentar. Pensei que minha semana seria aberta com galãs baratos que procuram presas em um café da manhã...Oh...Espere ai..."
Disse com uma irônia ainda mais fria que a do próprio James, juntamente com um falso pensar, o que fez o jovem galã gargalhar. Sentia-se bem com uma conversa agressiva daquelas, a garota oferecia inteligência e isso, para James, era indispensável.
"- Ahah. Não procurava presas...Hoje. Sou galã, sim, mas não barato, por favor. Apenas fiquei curioso. Você não é daqui, é? "
"- Ah! Me diz que não é barato e reconhece uma estrangeira quando a vê. Incrível..."
"- Sou cliente deste café à mais de três anos, quando ele abriu e moro a duas quadras daqui. Não sou nenhum charlatão, Srta, desculpe a desapontar."
A garota calou-se por um momento e olhou para a cadeira vazia, como se estivesse apontando-a.
"- Obrigado."
Disse James, se sentando frente a frente com a garota, com a estranha impressão que a conhecia de algum lugar.
"- Então, estrangeira ou apenas cansou de seu bairro para vir morar aqui?"
"- Primeiro encontro, Cowboy, calma."
Disse a garota sorrindo de lado, debochando-o mais uma vez.
James limitou-se a rir levemente e suspirou.
"- Perdão, perdão. Sou James. Srta...?"
"- Ravena. Ravena Portinari."
"- Conheço esse livro."
"- Pois é."
"- Então...Itália?"
"- Uhum. Veneza."
"- Ah...Bella Venezia..."
A garota riu, mais confortável.
"- A vida está cara demais lá, aqui está mais proveitoso."
"- Sei como é, meus tios pensaram a mesma coisa."
"- Orfão?"
"- Sim."
"- Meus pêsames."
"- Obrigado...Mas não me lembro deles então..."
"- Menos mal, me engano?"
"- De uma forma bem fria, não, não se engana."
Disse James ainda sorridente, porém, meio desnorteado com a sinceridade da garota.
"- Mas me diga, gostou deste Café? Sei que não são como lá mas..."
"- ...A música é boa."
Interrompeu ela, com os violinos Vivaldianos tocando a estação primaveril por trás.
"- Sim. De facto, sim."
Por um súbito momento, a garota se distanciara com a música, e nesse momento James optou por não desfrutar de sua audição e preferiu optar pela visão nos mínimos detalhes, o cabelo extremamente liso da garota, assim como um pescoço perfeito, liso e macio.
Seus ombros eram descobertos pelo vestido que ela trajava, e, em segundos, o sedoso cabelo fora desviado propositalmente para cima dos ombros e busto, como se os quisesse esconder, James olhou mais para cima e enfrentou dois olhos azuis, muito fortes para serem olhados diretamente.
Mas James se concentrou o bastante para não se deixar ofuscar pela luminosidade daquela doce garota.
"- Satisfeito com o que viu, pervertido?"
Disse ela num tom seco, a doce garota fora deixada de lado.
"- Eu não estava..."
"-...Aham."
"- Bah. Não sei para quê tento me explicar."
A garota agora sim, gargalhou divertida.
"- Ai, ai. Homens."
Seu tom frio se tornara em algo como deboche, assim como seu sorriso, como se tivesse propósitalmente desviado sua atenção para a música. James agora sim, se sentia incomodado, ela era astuta também.
"- Sabe, estou me perguntando o que seria mais volumoso, seu busto ou seus lábios. Mas diria que sua astúcia é maior que ambas, juntas."
James disse, num tom atrevido, que levou a garota a ficar com o rosto meio rubro e sem vontade de falar. Era astuta, mas assim como James, não saberia lidar com elogios eloquentes.
"- Touché."
Disse a garota com a voz enfraquecida, ainda rubro.
James deslizou sua mão direita em direção à dela, que ficou petrificada ao ver a dele.
Agarrou-a, sentindo a mão frágil feminina gélida, não sabendo o real porquê da temperatura.
"- Perdoe-me, foi deselegante e bastante rude. Mas você é bastante travessa com as palavras."
A garota entrelaçou os dedos com os de James, e olhou para essa cena em particular.
Ela usava o polegar para acariciar levemente a mão entrelaçada de James.
Com isso, o jovem ficou estonteado e, deveras nervoso. Seu rosto agora ficara vermelho.
"- Não são só com as palavras, querido."
Era uma perfeita atriz. Era perfeita.
James quase cedeu à provocação, mas o ego dele inflava, inflamava.
Então levou a mão da ruiva até seus lábios e beijou-a levemente, provocativo, após isso lentamente desenmaranhou-se da astuta mão da garota.
O desnorteamento da bela moça era palpável.
"- Enfim...Pode considerar um Bem-Vinda ao bairro?"
Disse ele com um sorriso de orelha a orelha.
"- Bastante fraco, mas considerarei."

Era óbvio que não daria o braço a torcer, nenhum dos dois daria, na verdade.
Então nessa manhã, James e Ravena continuaram se duelando amigávelmente, medindo suas forças e mentes, mentes essas que estavam curiosamente conectadas.


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