Parte I - James.
Segunda-feira.
Uma manhã de segunda.
O sol acariciava lentamente a pele do jovem James.
A pele irritava-se com os raios matinais, assim como sua mente, ao perceber o que aquilo queria dizer.
Acordar.
Logo o despertador iria tocar, e se ele quisesse começar bem o dia, não o podia deixar grasnar.
E foi o que fez, em um movimento preguiçoso esbarrou com o braço no relógio digital, impedindo o gritar das sete horas.
E ficou assim, por mais uma meia hora, até que o sol esbofeteou-lhe o rosto áspero.
Com mil resmungos, o rapaz finalmente se sentou em sua cama, com uma mão tampando-lhe o olho direito, como se quisesse parar a dor de cabeça matinal, mas, orgulhoso, apenas deslizou sua mão até ao cabelo, penteando-o e posteriomente agarrando-se à lateral da cama.
"- Arg...Bem que tu podias me dar um descanso de vez em vez, que tal? "
Disse com um tom rouco de deboche com direito a um "tsc" final.
Após meditar um pouco sobre sua situação caótica, decidiu se levantar rumo a seu banheiro.
Fechou a porta de madeira, trancou-a e se deparou com a pia, torneira e um pouco acima, um espelho.
Não costumava olhar-se muito no espelho, então, se estranhando, passou sua mão desde seu queixo até sua bochecha, sentindo algo ríspido e, no conceito visual dele, grande demais para ficar por lá.
Arqueou sua coluna, fazendo a estalar, olhou para cima, forçando o pescoço a fazer o que sua coluna fez, continuando com os ombros, braços e dedos.
Quando ficou satisfeito com aquilo, ligou o chuveiro, que era a uns cinco passos da pia, dois do vaso sanitário.
Como James, o chuveiro resmungou, mas não tardou a obedecer-lhe e começou a jorrar água escaldante.
O jovem pôs uma mão corajosa no fumacento jato d'água que, curiosamente, aceitou sua temperatura.
Tirou o resquício de roupa que tinha e entrou vagarosamente para dentro do cubículo.
Molhou seus braços, para acordar um pouco, depois entrou por debaixo do chuveiro, soltando um "Ah" de relaxo.
Apoiou suas mãos contra a parede na frente e aproveitou o jato em sua nuca para pensar o que faria hoje, ou se faria algo.
Lembrou-se que nada tinha para comer e que hoje estava curto de paciência para ver o "Mais Você" e logo prontificou-se a tomar a decisão que teria de comer fora.
A ideia de ter de gastar uns extras pela sua preguiça ou falta de paciência lhe incomodava, mas quem sabe o dono de seu restaurante favorito estivesse para isentar-lhe das despesas...Se tivesse sorte..
Passou seu shampoo, condicionador e seu sabonete e enxaguou-se, após isso, desligou o chuveiro, tirou sua toalha e secou seu cabelo e corpo, respectivamente.
Enrolou a toalha em volta de sua cintura e saiu do banheiro sacudindo seu cabelo, respingando água ao redor.
Abriu sua gaveta onde estariam as camisetas e o que viu a seguir foi um deleite aos olhos.
Sua favorita camiseta, um vermelha com toques dourados e pretos.
Um presente dos Deuses, quem sabe.
Vestiu-a com umas Jeans básicas, calçou seus sapatos confortáveis e tratou de tudo para sair.
Não iria de carro, era perto demais.
E assim caminhou uns dez minutos até alcançar onde geralmente comia um bom café-da-manhã.
Cumprimentou a atendente de sempre, que lhe retribuiu com um gentil sorriso e uma indagação profissional.
"- Bom dia Senhor James. Como está?"
"- Bem obrigado, Ana. E porquê insiste em me chamar de Senhor? Sou assim tão velho?"
Retrucou com um sorriso. A garota soltou um suspiro.
"- Desculpa "James", nem todos os clientes que temos aqui são como você."
"- Vou levar isso como um elogio, querida. E não precisa se desculpar."
James podia sentir o tom que clamara seu nome com respeito, mas não era necessário. Ser funcionário daquele lugar onde iria todos os dias era como se fosse de sua familia...Já que nem sua familia o teria visto tanto quanto os funcionários daquele local. Triste, mas não deixava de ser verdade.
E com a réplica do jovem James a garota deu uma leve risada.
"- Ali está sua mesa como sempre, jájá vai sair o café, faço questão de trazer a primeira xícara."
"- Ah, você sabe como levantar minha moral, querida. Agradeço-lhe bastante."
E com um sorriso, James foi até seu localzinho, onde tinha nada mais, nada menos que um jornal o esperando.
James se sentou, observando o local, ele gostava muito deste específico local.
Não era apenas a paz, tranquilidade e o fato "perto de casa" que o atraiam.
Era o pessoal e a música bem fora do padrão de hoje em dia.
Variava de Mozart para AC/DC, mas nenhuma música ruim e incrivelmente, todas tinham um timing perfeito para seu humor.
Após uns parágrafos de óbitos no jornal, como era de costume, James recebeu seu prometido café e logo pôs seu jornal de lado, pronto para tomar aquele forte café que apenas ali conseguia saborear com perfeição.
"- Daqui a meia hora serviremos a comida."
James apenas sorriu como resposta e a garota logo se retirou para seu cabinet para atender outros clientes assíduos dali.
Ela deveria ter uns 18, 19 anos. 5 ou 6 a menos que James.
Relevando isso, James pegou em sua xícara, elevou-a até seus lábios e cuidadosamente bebericou o café, para não se queimar.
Perfeito, como sempre. A excelência neste local era outra coisa que lhe agradava.
Fatias de pão e uma dose de manteiga eram também servidas na mesa, o pão, também, ainda quente.
Com uma faca que se prontava do lado da cestinha de pão, James apenas barrou seu pão com a tal manteiga, deu uma mordida, saboreando ambos e após engolir, deu um gole em seu café, extasiado com a mistura de sabores.
Mas tinha algo, hoje, que James nunca haveria se deparado.
Uma garota, uma cliente nova.
Nunca a tinha visto pelas redondezas, muito menos no local predileto dele.
Seu cabelo era um ruivo bem disfarçado, quase moreno.
Os olhos, embora longe, pareciam cintilar, seus lábios eram supreendentemente vermelhos.
Sua pele era quase albina, não parecia alguém das rendondezas, mesmo.
O único que teria essa cor seria o próprio James.
Curioso, James observara a estranha e sedutora novata.
Vez em vez dava meio ou um gole no ainda quente café.
O interesse surgia crescente em seus pulmões e coração, suas veias pulsavam instinto e, quando não pôde mais aguentar, bebeu o resto de café que tinha em sua xícara e levantou-se de seu lugar até à estranha beldade.
Ela notou a presença do mesmo, no instante que James posou o olho nela, mas foi discreta o bastante para disfarçar, enquanto esperava o café, fingia se maquiar no espelho que trazia na bolsa para confirmar o olhar do curioso cliente que ali se prontava.
Mas o desconforto foi maior quando o viu vindo em sua direção, sair da mesa não era uma opção, quem sabe o afastar com palavras seria mais proveitoso.
O jovem então chegou perto da mesa da estranha "intrusa" e sorriu-lhe com ternura, doce como mel, indagou-lhe.
"- Desculpe-me Senhorita, mas esta cadeira está vaga?"
"- Se for para usar para um amigo seu, ou amiga, está, se for para me incomodar, está muito ocupada."
A garota respondeu-lhe com um tom seco, frio e áspero, quase como se quisesse cortar o assunto pela raiz.
O garoto pôs uma mão no peito, como se alguém tivesse acertado seu coração, brincando, disse com um tom irônico.
"- Outch, essa doeu. Será que hoje em dia duas simples pessoas não podem ter uma conversa saudável acerca do clima e estupidez humana?"
A garota riu levemente com a irônia sentida, talvez o bonitinho não fosse tão estúpido como pensara.
"- Pode sentar. Pensei que minha semana seria aberta com galãs baratos que procuram presas em um café da manhã...Oh...Espere ai..."
Disse com uma irônia ainda mais fria que a do próprio James, juntamente com um falso pensar, o que fez o jovem galã gargalhar. Sentia-se bem com uma conversa agressiva daquelas, a garota oferecia inteligência e isso, para James, era indispensável.
"- Ahah. Não procurava presas...Hoje. Sou galã, sim, mas não barato, por favor. Apenas fiquei curioso. Você não é daqui, é? "
"- Ah! Me diz que não é barato e reconhece uma estrangeira quando a vê. Incrível..."
"- Sou cliente deste café à mais de três anos, quando ele abriu e moro a duas quadras daqui. Não sou nenhum charlatão, Srta, desculpe a desapontar."
A garota calou-se por um momento e olhou para a cadeira vazia, como se estivesse apontando-a.
"- Obrigado."
Disse James, se sentando frente a frente com a garota, com a estranha impressão que a conhecia de algum lugar.
"- Então, estrangeira ou apenas cansou de seu bairro para vir morar aqui?"
"- Primeiro encontro, Cowboy, calma."
Disse a garota sorrindo de lado, debochando-o mais uma vez.
James limitou-se a rir levemente e suspirou.
"- Perdão, perdão. Sou James. Srta...?"
"- Ravena. Ravena Portinari."
"- Conheço esse livro."
"- Pois é."
"- Então...Itália?"
"- Uhum. Veneza."
"- Ah...Bella Venezia..."
A garota riu, mais confortável.
"- A vida está cara demais lá, aqui está mais proveitoso."
"- Sei como é, meus tios pensaram a mesma coisa."
"- Orfão?"
"- Sim."
"- Meus pêsames."
"- Obrigado...Mas não me lembro deles então..."
"- Menos mal, me engano?"
"- De uma forma bem fria, não, não se engana."
Disse James ainda sorridente, porém, meio desnorteado com a sinceridade da garota.
"- Mas me diga, gostou deste Café? Sei que não são como lá mas..."
"- ...A música é boa."
Interrompeu ela, com os violinos Vivaldianos tocando a estação primaveril por trás.
"- Sim. De facto, sim."
Por um súbito momento, a garota se distanciara com a música, e nesse momento James optou por não desfrutar de sua audição e preferiu optar pela visão nos mínimos detalhes, o cabelo extremamente liso da garota, assim como um pescoço perfeito, liso e macio.
Seus ombros eram descobertos pelo vestido que ela trajava, e, em segundos, o sedoso cabelo fora desviado propositalmente para cima dos ombros e busto, como se os quisesse esconder, James olhou mais para cima e enfrentou dois olhos azuis, muito fortes para serem olhados diretamente.
Mas James se concentrou o bastante para não se deixar ofuscar pela luminosidade daquela doce garota.
"- Satisfeito com o que viu, pervertido?"
Disse ela num tom seco, a doce garota fora deixada de lado.
"- Eu não estava..."
"-...Aham."
"- Bah. Não sei para quê tento me explicar."
A garota agora sim, gargalhou divertida.
"- Ai, ai. Homens."
Seu tom frio se tornara em algo como deboche, assim como seu sorriso, como se tivesse propósitalmente desviado sua atenção para a música. James agora sim, se sentia incomodado, ela era astuta também.
"- Sabe, estou me perguntando o que seria mais volumoso, seu busto ou seus lábios. Mas diria que sua astúcia é maior que ambas, juntas."
James disse, num tom atrevido, que levou a garota a ficar com o rosto meio rubro e sem vontade de falar. Era astuta, mas assim como James, não saberia lidar com elogios eloquentes.
"- Touché."
Disse a garota com a voz enfraquecida, ainda rubro.
James deslizou sua mão direita em direção à dela, que ficou petrificada ao ver a dele.
Agarrou-a, sentindo a mão frágil feminina gélida, não sabendo o real porquê da temperatura.
"- Perdoe-me, foi deselegante e bastante rude. Mas você é bastante travessa com as palavras."
A garota entrelaçou os dedos com os de James, e olhou para essa cena em particular.
Ela usava o polegar para acariciar levemente a mão entrelaçada de James.
Com isso, o jovem ficou estonteado e, deveras nervoso. Seu rosto agora ficara vermelho.
"- Não são só com as palavras, querido."
Era uma perfeita atriz. Era perfeita.
James quase cedeu à provocação, mas o ego dele inflava, inflamava.
Então levou a mão da ruiva até seus lábios e beijou-a levemente, provocativo, após isso lentamente desenmaranhou-se da astuta mão da garota.
O desnorteamento da bela moça era palpável.
"- Enfim...Pode considerar um Bem-Vinda ao bairro?"
Disse ele com um sorriso de orelha a orelha.
"- Bastante fraco, mas considerarei."
Era óbvio que não daria o braço a torcer, nenhum dos dois daria, na verdade.
Então nessa manhã, James e Ravena continuaram se duelando amigávelmente, medindo suas forças e mentes, mentes essas que estavam curiosamente conectadas.
Uma manhã de segunda.
O sol acariciava lentamente a pele do jovem James.
A pele irritava-se com os raios matinais, assim como sua mente, ao perceber o que aquilo queria dizer.
Acordar.
Logo o despertador iria tocar, e se ele quisesse começar bem o dia, não o podia deixar grasnar.
E foi o que fez, em um movimento preguiçoso esbarrou com o braço no relógio digital, impedindo o gritar das sete horas.
E ficou assim, por mais uma meia hora, até que o sol esbofeteou-lhe o rosto áspero.
Com mil resmungos, o rapaz finalmente se sentou em sua cama, com uma mão tampando-lhe o olho direito, como se quisesse parar a dor de cabeça matinal, mas, orgulhoso, apenas deslizou sua mão até ao cabelo, penteando-o e posteriomente agarrando-se à lateral da cama.
"- Arg...Bem que tu podias me dar um descanso de vez em vez, que tal? "
Disse com um tom rouco de deboche com direito a um "tsc" final.
Após meditar um pouco sobre sua situação caótica, decidiu se levantar rumo a seu banheiro.
Fechou a porta de madeira, trancou-a e se deparou com a pia, torneira e um pouco acima, um espelho.
Não costumava olhar-se muito no espelho, então, se estranhando, passou sua mão desde seu queixo até sua bochecha, sentindo algo ríspido e, no conceito visual dele, grande demais para ficar por lá.
Arqueou sua coluna, fazendo a estalar, olhou para cima, forçando o pescoço a fazer o que sua coluna fez, continuando com os ombros, braços e dedos.
Quando ficou satisfeito com aquilo, ligou o chuveiro, que era a uns cinco passos da pia, dois do vaso sanitário.
Como James, o chuveiro resmungou, mas não tardou a obedecer-lhe e começou a jorrar água escaldante.
O jovem pôs uma mão corajosa no fumacento jato d'água que, curiosamente, aceitou sua temperatura.
Tirou o resquício de roupa que tinha e entrou vagarosamente para dentro do cubículo.
Molhou seus braços, para acordar um pouco, depois entrou por debaixo do chuveiro, soltando um "Ah" de relaxo.
Apoiou suas mãos contra a parede na frente e aproveitou o jato em sua nuca para pensar o que faria hoje, ou se faria algo.
Lembrou-se que nada tinha para comer e que hoje estava curto de paciência para ver o "Mais Você" e logo prontificou-se a tomar a decisão que teria de comer fora.
A ideia de ter de gastar uns extras pela sua preguiça ou falta de paciência lhe incomodava, mas quem sabe o dono de seu restaurante favorito estivesse para isentar-lhe das despesas...Se tivesse sorte..
Passou seu shampoo, condicionador e seu sabonete e enxaguou-se, após isso, desligou o chuveiro, tirou sua toalha e secou seu cabelo e corpo, respectivamente.
Enrolou a toalha em volta de sua cintura e saiu do banheiro sacudindo seu cabelo, respingando água ao redor.
Abriu sua gaveta onde estariam as camisetas e o que viu a seguir foi um deleite aos olhos.
Sua favorita camiseta, um vermelha com toques dourados e pretos.
Um presente dos Deuses, quem sabe.
Vestiu-a com umas Jeans básicas, calçou seus sapatos confortáveis e tratou de tudo para sair.
Não iria de carro, era perto demais.
E assim caminhou uns dez minutos até alcançar onde geralmente comia um bom café-da-manhã.
Cumprimentou a atendente de sempre, que lhe retribuiu com um gentil sorriso e uma indagação profissional.
"- Bom dia Senhor James. Como está?"
"- Bem obrigado, Ana. E porquê insiste em me chamar de Senhor? Sou assim tão velho?"
Retrucou com um sorriso. A garota soltou um suspiro.
"- Desculpa "James", nem todos os clientes que temos aqui são como você."
"- Vou levar isso como um elogio, querida. E não precisa se desculpar."
James podia sentir o tom que clamara seu nome com respeito, mas não era necessário. Ser funcionário daquele lugar onde iria todos os dias era como se fosse de sua familia...Já que nem sua familia o teria visto tanto quanto os funcionários daquele local. Triste, mas não deixava de ser verdade.
E com a réplica do jovem James a garota deu uma leve risada.
"- Ali está sua mesa como sempre, jájá vai sair o café, faço questão de trazer a primeira xícara."
"- Ah, você sabe como levantar minha moral, querida. Agradeço-lhe bastante."
E com um sorriso, James foi até seu localzinho, onde tinha nada mais, nada menos que um jornal o esperando.
James se sentou, observando o local, ele gostava muito deste específico local.
Não era apenas a paz, tranquilidade e o fato "perto de casa" que o atraiam.
Era o pessoal e a música bem fora do padrão de hoje em dia.
Variava de Mozart para AC/DC, mas nenhuma música ruim e incrivelmente, todas tinham um timing perfeito para seu humor.
Após uns parágrafos de óbitos no jornal, como era de costume, James recebeu seu prometido café e logo pôs seu jornal de lado, pronto para tomar aquele forte café que apenas ali conseguia saborear com perfeição.
"- Daqui a meia hora serviremos a comida."
James apenas sorriu como resposta e a garota logo se retirou para seu cabinet para atender outros clientes assíduos dali.
Ela deveria ter uns 18, 19 anos. 5 ou 6 a menos que James.
Relevando isso, James pegou em sua xícara, elevou-a até seus lábios e cuidadosamente bebericou o café, para não se queimar.
Perfeito, como sempre. A excelência neste local era outra coisa que lhe agradava.
Fatias de pão e uma dose de manteiga eram também servidas na mesa, o pão, também, ainda quente.
Com uma faca que se prontava do lado da cestinha de pão, James apenas barrou seu pão com a tal manteiga, deu uma mordida, saboreando ambos e após engolir, deu um gole em seu café, extasiado com a mistura de sabores.
Mas tinha algo, hoje, que James nunca haveria se deparado.
Uma garota, uma cliente nova.
Nunca a tinha visto pelas redondezas, muito menos no local predileto dele.
Seu cabelo era um ruivo bem disfarçado, quase moreno.
Os olhos, embora longe, pareciam cintilar, seus lábios eram supreendentemente vermelhos.
Sua pele era quase albina, não parecia alguém das rendondezas, mesmo.
O único que teria essa cor seria o próprio James.
Curioso, James observara a estranha e sedutora novata.
Vez em vez dava meio ou um gole no ainda quente café.
O interesse surgia crescente em seus pulmões e coração, suas veias pulsavam instinto e, quando não pôde mais aguentar, bebeu o resto de café que tinha em sua xícara e levantou-se de seu lugar até à estranha beldade.
Ela notou a presença do mesmo, no instante que James posou o olho nela, mas foi discreta o bastante para disfarçar, enquanto esperava o café, fingia se maquiar no espelho que trazia na bolsa para confirmar o olhar do curioso cliente que ali se prontava.
Mas o desconforto foi maior quando o viu vindo em sua direção, sair da mesa não era uma opção, quem sabe o afastar com palavras seria mais proveitoso.
O jovem então chegou perto da mesa da estranha "intrusa" e sorriu-lhe com ternura, doce como mel, indagou-lhe.
"- Desculpe-me Senhorita, mas esta cadeira está vaga?"
"- Se for para usar para um amigo seu, ou amiga, está, se for para me incomodar, está muito ocupada."
A garota respondeu-lhe com um tom seco, frio e áspero, quase como se quisesse cortar o assunto pela raiz.
O garoto pôs uma mão no peito, como se alguém tivesse acertado seu coração, brincando, disse com um tom irônico.
"- Outch, essa doeu. Será que hoje em dia duas simples pessoas não podem ter uma conversa saudável acerca do clima e estupidez humana?"
A garota riu levemente com a irônia sentida, talvez o bonitinho não fosse tão estúpido como pensara.
"- Pode sentar. Pensei que minha semana seria aberta com galãs baratos que procuram presas em um café da manhã...Oh...Espere ai..."
Disse com uma irônia ainda mais fria que a do próprio James, juntamente com um falso pensar, o que fez o jovem galã gargalhar. Sentia-se bem com uma conversa agressiva daquelas, a garota oferecia inteligência e isso, para James, era indispensável.
"- Ahah. Não procurava presas...Hoje. Sou galã, sim, mas não barato, por favor. Apenas fiquei curioso. Você não é daqui, é? "
"- Ah! Me diz que não é barato e reconhece uma estrangeira quando a vê. Incrível..."
"- Sou cliente deste café à mais de três anos, quando ele abriu e moro a duas quadras daqui. Não sou nenhum charlatão, Srta, desculpe a desapontar."
A garota calou-se por um momento e olhou para a cadeira vazia, como se estivesse apontando-a.
"- Obrigado."
Disse James, se sentando frente a frente com a garota, com a estranha impressão que a conhecia de algum lugar.
"- Então, estrangeira ou apenas cansou de seu bairro para vir morar aqui?"
"- Primeiro encontro, Cowboy, calma."
Disse a garota sorrindo de lado, debochando-o mais uma vez.
James limitou-se a rir levemente e suspirou.
"- Perdão, perdão. Sou James. Srta...?"
"- Ravena. Ravena Portinari."
"- Conheço esse livro."
"- Pois é."
"- Então...Itália?"
"- Uhum. Veneza."
"- Ah...Bella Venezia..."
A garota riu, mais confortável.
"- A vida está cara demais lá, aqui está mais proveitoso."
"- Sei como é, meus tios pensaram a mesma coisa."
"- Orfão?"
"- Sim."
"- Meus pêsames."
"- Obrigado...Mas não me lembro deles então..."
"- Menos mal, me engano?"
"- De uma forma bem fria, não, não se engana."
Disse James ainda sorridente, porém, meio desnorteado com a sinceridade da garota.
"- Mas me diga, gostou deste Café? Sei que não são como lá mas..."
"- ...A música é boa."
Interrompeu ela, com os violinos Vivaldianos tocando a estação primaveril por trás.
"- Sim. De facto, sim."
Por um súbito momento, a garota se distanciara com a música, e nesse momento James optou por não desfrutar de sua audição e preferiu optar pela visão nos mínimos detalhes, o cabelo extremamente liso da garota, assim como um pescoço perfeito, liso e macio.
Seus ombros eram descobertos pelo vestido que ela trajava, e, em segundos, o sedoso cabelo fora desviado propositalmente para cima dos ombros e busto, como se os quisesse esconder, James olhou mais para cima e enfrentou dois olhos azuis, muito fortes para serem olhados diretamente.
Mas James se concentrou o bastante para não se deixar ofuscar pela luminosidade daquela doce garota.
"- Satisfeito com o que viu, pervertido?"
Disse ela num tom seco, a doce garota fora deixada de lado.
"- Eu não estava..."
"-...Aham."
"- Bah. Não sei para quê tento me explicar."
A garota agora sim, gargalhou divertida.
"- Ai, ai. Homens."
Seu tom frio se tornara em algo como deboche, assim como seu sorriso, como se tivesse propósitalmente desviado sua atenção para a música. James agora sim, se sentia incomodado, ela era astuta também.
"- Sabe, estou me perguntando o que seria mais volumoso, seu busto ou seus lábios. Mas diria que sua astúcia é maior que ambas, juntas."
James disse, num tom atrevido, que levou a garota a ficar com o rosto meio rubro e sem vontade de falar. Era astuta, mas assim como James, não saberia lidar com elogios eloquentes.
"- Touché."
Disse a garota com a voz enfraquecida, ainda rubro.
James deslizou sua mão direita em direção à dela, que ficou petrificada ao ver a dele.
Agarrou-a, sentindo a mão frágil feminina gélida, não sabendo o real porquê da temperatura.
"- Perdoe-me, foi deselegante e bastante rude. Mas você é bastante travessa com as palavras."
A garota entrelaçou os dedos com os de James, e olhou para essa cena em particular.
Ela usava o polegar para acariciar levemente a mão entrelaçada de James.
Com isso, o jovem ficou estonteado e, deveras nervoso. Seu rosto agora ficara vermelho.
"- Não são só com as palavras, querido."
Era uma perfeita atriz. Era perfeita.
James quase cedeu à provocação, mas o ego dele inflava, inflamava.
Então levou a mão da ruiva até seus lábios e beijou-a levemente, provocativo, após isso lentamente desenmaranhou-se da astuta mão da garota.
O desnorteamento da bela moça era palpável.
"- Enfim...Pode considerar um Bem-Vinda ao bairro?"
Disse ele com um sorriso de orelha a orelha.
"- Bastante fraco, mas considerarei."
Era óbvio que não daria o braço a torcer, nenhum dos dois daria, na verdade.
Então nessa manhã, James e Ravena continuaram se duelando amigávelmente, medindo suas forças e mentes, mentes essas que estavam curiosamente conectadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário