quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Começo.

Parte III - Anjo.



Desta vez, não fui acordado. Desta vez uma porta fora imposta na minha frente, só podia saber que era uma porta pela luz que emanava pelas frestas e formava uma silhueta retangular em pé, à volta, tudo era escuro, sem som.
Claro, que agarrei a maçaneta e abri.
Ao abrir, uma conhecida sala. Lá estavam os personagens da "acordada" passada, Vergil agora estava com o braço no pescoço de Dante e Nero ralhando com Vergil, Dante já estava roxo com a falta de ar e então, Vergil o largou.

- Raios Vergil, quase mata seu irmão.

- Cof, cof, fraco, cof.

- Me enche o saco, desgraçado, que te arranco a cabeça na próxima vez, fica pedindo ajuda a Nero, pff.

A cena era engraçada até, tão engraçada que soltei uma risada leve, à medida que fechava a porta, se tinha de ficar ali com as mesmas pessoas, bah, que ao menos fosse divertido.

- Daaaaaee! Está com o humor melhorado hoje! Cof...

Dizia o gigante de vermelho, meio que massageando o pescoço.

- Eheh...Estou um pouco sim...Afinal esta história é bem complicadinha, mas...Não deixamos de estar presos ao mesmo destino, erhm?

- Não estamos presos, você sempre pode ficar no escuro por trás da porta, meu caro.

Dizia a figura mais seca do local, mas meio que educada.

- Sim, podemos, a questão é que sempre abrimos então...Olá.

- Esse é o espirito. Então, hoje, deseja fazer mais alguma pergunta? Sua vez está quase chegando, sabe.

De fundo, dava para ver Dante cutucando o de azul, parecia impaciente e, com um olhar mortal focado no ar, como se imaginasse algo bem...mortal?
Bem, de facto Nero tinha a maioria das respostas então, foi bombardeando com elas, queria absorver tudo.

- Mas...Todos nós conseguimos ver ele, porquê isso? Afinal ele não tem uma consciência própria?

- Tem, sim, mas a junção de todos nós é, na verdade, Ele.

-...Ele então é a entidade maior, ele é o propósito de existirmos?

- Até certo ponto, Ele nos cria para se ajudar, nós existimos como fruto de imaginação, somos situações separadas e/ou fraccionadas em pessoas, você é mais uma consciência base, onde se adapta mais ao "James".

Mas isso era ainda mais confuso, confuso a ponto de parar para processar, eu afinal tinha lembranças, tinha pessoas que me lembrava, tinha uma infância, embora quebrada assim como adolescência, adulto e...morte.
Me lembrava da poça de sangue em uma noite chuvosa. Apenas isso...

- Eu tenho lembranças...

- As quais existiram, em uma vida passada. Você tem também uma personalidade e um jeito de lidar com as coisas, assim como decisões.
Esse jeito, irá afetar James, com um ou dois pensamentos teus para com ele.
Claro que ele também pode escolher se vai te ignorar ou te ouvir, ele tem esse poder.

- Então só nos usa? Nós não temos propósito, fim?

- Bem...Lembre-se de seu lar. Seu lar tinha uma quantia razoável de dinheiro, dinheiro o qual você produzia pela quantidade de trabalho que você tinha, sua vida nesse tempo fora ser ensinado para ser usado e, mesmo assim, sem um real livre arbítrio.
Aqui você trabalha consigo mesmo e com "James", a questão é que, enquanto ele estiver vivo, você estará também, você não paga por isso, não precisa comer e você não é ensinado a isso.
Ele te deixa ser quem és e se funde a ti, claro, com suas limitações. Ninguém gosta de ser TODO um apenas. Senão simplesmente deixávamos de sentir, concorda?

Nero realmente tinha uma lábia incrível, assim como sua inteligência e magnificência com as palavras, aquilo esclarecera muita coisa e, o meu pensamento pre-formado de preso a alguém, fora transformado em agradecimento, afinal, com a visão de alguém vivo e, ainda assim pensando com sua própria cabeça era algo perto da liberdade, só que as limitações eram um pouco mais...estranhas.
Agora, Dante e Vergil lentamente paravam de brigar e se levantavam, um empurrando o outro, em direção da porta e, entrando na mesma, dava para ver eles sumindo no breu.

- Bem, agora vou indo, meu amigo. Qualquer pergunta que tenha, no futuro, estou aqui.
Mas vai aprender mais com ele.

Apontara para a tela onde passava as memórias de James, as presentes memórias. E se direcionou para a porta que, fechara à medida que entrou.

Agora, me concentrei na tela mostrava uma conversa e à medida que me concentrava na tela, conseguia sentir o que James sentia e ouvir o que diziam,assim como o próprio James, era uma conversa básica de jantar, socialização.
De vez em vez, James olhava para uma garota, mas eu conseguia sentir a fervilhação, algo imensamente forte.
Nos olhos da garota, eu podia ver alguém dentro, alguém...Aquele mesmo alguém que na conversa anterior vira.
Era estranha, lindamente estranha, será que ela me vira?
Fiz um sinal de "Olá" para ela, levantando o braço e acenando.
Após um tempo, essa figura fez a mesma coisa.
James cortava sempre a visão e, a conversa continuava.
A garota era estranhamente familiar, assim como a fisionomia da figura em seus olhos.
Ambos se despediram de seu amigo, e foram para uma praia, desta vez, conseguira sentir o que a garota sentira, era estranho distinguir, só que quando sentia isso, vinha um perfume junto, apenas assim conseguia diferenciar.
Ambos se sentaram, também e algo aconteceu.
...
...
Um breu.





O Começo.

Parte III - James.



A conversa se estendia largamente pela tarde, tarde que iria ficando noite, noite a qual Ravena e James decidiram se despedir de Lorenzo que, inevitavelmente ficara triste com a despedida de dois grandes amigos, uma mais nova que o outro.

"- Per favore! Fiquen' mais un poquito no?"

"- Não podemos Lorenzo, ainda tenho de mostrar uns lugares à tua bela dama."

Disse, preenchido com uma gostosa risada de Lorenzo, que entendera ambas as mensagens que James dera, assim como Ravena que deu um beijo e saiu na frente, orgulhosa.
James estava brincando, claro, mas a Ravena decidira que iria brincar mais um pouco com sua presa, como se não quisesse ser levada para outros lugares.

"- Ahah! Enfim, Lorenzo, grazi por tudo, quando meu dinheiro chegar da companhia, prometo que virei aqui, quem sabe com ela."

Disse, virando seu olhar para a ruiva que ainda continuava andando pela escuridão, esperando ninguém a não ser o vento que lhe batia nos cabelos, fazendo uma reação típica, o abrasar do fogo.

"- No te preocupes, Jamy, vá, vá!"

Dissera Lorenzo, o empurrando e depois cruzando os braços, vendo a cena de James aproveitando o empurrão leve para alcançar a garota aparentemente perdida.

"- Sabe, a praia que vamos é para a direita, andar para a frente não vai encurtar nosso caminho."

Dizia, com um sorriso estampado em seu semblante despreocupado.
O mesmo não se podia dizer de Ravena, que se virara para James com os braços cruzados, o fogo que seus cabelos representavam marcavam uma raiva incendiária, tão incendiaria que havia queimado a felicidade de James.

"- Você está bem? Que houve?"

Seu tom era de uma preocupação excruciante, como se estivesse realmente sofrendo com aquilo, preocupação que alimentou um lado sádico de Ravena, lado o qual ela ainda não teria acabado de mostrar, continuou com sua representação.

"- Você acha que eu sou alguma guria que você anda por ai, mostrando "uns lugares"?
Quem lhe disse que eu queria ir a esses lugares?"

Ela indagou com um certo tom de irritação na voz, James ficara confuso, ela não tinha entendido a brincadeira, pensou ele.

"- Mas...Me desculpe, Senhorita, foi uma simples brincadeira, eu queria dar um passeio com você, apenas isso, me perdoe se fui indelicado."

Após isso, a garota simplesmente sorriu, descruzou os braços e estendeu-lhe uma mão, conseguira o que queria dele.

"- Ah, ótimo então. Praia você disse?"

Dissera doce, mais doce do que tinha sido em toda a sua caminhada até agora. Deixou James confuso, mas não em o que deveria fazer, agarrou a mão da garota e beijara a palma da mesma, recomeçando a caminhar, rumo a uma praia.
A garota parecia diferente, algo em volta dela, algo que apenas James podia sentir percorria em todo seu corpo, suas feições mudaram, a seriedade foi despida completamente de seu ser, parecia a calmaria depois da tempestade.

"- Então...James, como conheceu Lorenzo?"

James pensou, na verdade, estava tentando se lembrar da primeira vez que conhecera seu "pai adotivo" dentre aquela cidade deserta e, logo se pronunciou.

"- Hm...Lorenzo era mais um fã meu, um fã que me reconheceu quando eu almocei em seu restaurante, de princípio era meio tímido, suas palavras eram bem calculadas, nada exagerado, bem minimalista.
Mas à medida que íamos comendo, a conversa ia ficando mais e mais agradável, ao ponto de conversarmos frustrações, problemas, até mesmo da vida em si.
Ambos simpatizamos um com o outro e, desde então, ele tem sido um pai para mim."

Disse, à medida que ia contraindo a face de dor ou alegria, de suas lembranças, sentimentos que eram notados por Ravena, a qual se abraçara de lado a James, após terminar sua explicação.

"- Fã? Mas você é alguma espécie de celebridade que eu não conheça?"

Ela disse, ainda abraçada e olhando para cima, enquanto James retirava um braço do abraço dela e a envolvia com esse braço direito, passando pelas costas e chegando até ao braço da garota, empurrando-a contra si, quando ouviu a palavra celebridade, riu um pouco.

"- Bem...Se você gosta de romances fictícios e/ou etéreos, sou uma celebridade sim, já se você for um crítico a favor do cepticismo comunal, ora..."

Riu imaginando a cena, realmente era odiado por críticos que não gostavam de decolar da Terra e pensar algo a mais, sua imaginação era muito grande, muito extremista.
Ela pareceu emudecer, não conhecia realmente nenhum trabalho de James.

"- Bem, nem todos podemos gostar da mesma coisa, é a lei da vida, e eu tenho uma boa imaginação mas não me deixe falar sozinho até à praia, Signora."

Ela riu levemente, tanto pela brincadeira tanto quanto o sotaque forçado de Lorenzo, ele era um personagem memorável.

"- Não é isso, é que você não parece desse tipo, não parece dos tipos "fictícios", você é bem assento no chão quando fala, bem...Cético. Apesar de ser um galã barato, claro."

A garota disse, contendo uma risada, James apenas deixou a risada que ela conteve fluir para sua boca, rindo.

"- Ahah, eu sou muito diferente de minhas obras, minha mente é bem...aberta."

"- Assim como seu gosto por mulheres, muito aberto."

"- Assim você me fere, doce Ravena. Meu gosto é bem limitado e bem especial."

Novamente a garota emudeceu, desta vez não pelas palavras de James mas sim pela paisagem, paisagem a qual fê-la largar o abraço que continha James, suas mãos foram à boca, espantada.
James ficara satisfeito com a impressão que a praia tinha dado, pôs suas mãos nos bolsos e admirou a Praia da Lua.
A praia da lua era conhecida também como a Praia de Prata, porque alguns dias, a praia parecia estar coberta por uma camada de prata, refletindo a Lua, a areia era branca, fina, tinha até mesmo um barulho característico de areia fina.
O abraço que James ainda matinha sobre a Ruiva fazia-a andar sobre a areia que mais parecia acariciar os pés, não era uma areia que incomodasse como as praias normais.

"- Aqui era uma reserva de areia para filtros de água, mas a maresia dava conta das máquinas, então, a empresa foi à falência com tanto reparo que tinham de dar, e, destruíram a fábrica, que fez esta areia fina."

Disse, de um tom poético para acariciar os ouvidos da garota e, finalmente, a voz foi lhe devolvida.

"- Isto...é lindo. Isto é simplesmente lindo..."

Dizia, à medida que abraçava novamente James, James aproveitou o abraço para descer até ao chão, sentando-se com ela do lado, ambos ficaram vendo a praia prateada.

Agora tudo parecia diferente, a garota que ele tivera se defendendo abrira as suas próprias defesas, defesas as quais ela tinha simplesmente evaporado.
Sua...alma parecia mais limpa, até, quando me abraçava transmitia exatamente o que tanto procurava, em todas as suas aventuras literais, em toda a sua infinita imaginação.
A paisagem não lhe tirava o fôlego desta vez, desta vez ele não poderia abdicar do fôlego, o aroma daquela rosa era irresistível demais, algo mais importante que o próprio oxigênio seria para um ser humano.
Ele não estava sendo um ser humano agora.
O ódio do dia-a-dia, a raiva que todos lhe davam não lhe preenchia, o tédio, a preguiça, o SER humano, não lhe perturbava.
Ali, ele estava sendo algo extraterrestre, algo que não se via em qualquer lugar, algo único que, nem sequer tinha raça. Era tão único que mais parecia...Uma pessoa só.
Tanto era, que até seu sangue era ruivo.
Mas era demais para o outrora relaxado James, sua vida de imaginação havia o anestesiado do que era a vida, o que, por um lado, era bom. Ele podia se sentir mais vivo, mais vivo que qualquer outro ser humano que se rastejava pelos confins do egoísmo e falso heroísmo, logo atrás vinham os hipócritas e os insatisfeitos.
Sua personalidade fugaz não lhe permitia sentir assim, não era natural para James.
Mas ainda assim, o coração batia mais alto, falava mais rápido que os pensamentos.
Ainda assim, ficara calado, quieto, de vez em quando, fechava e abria os olhos para se certificar que não era mais uma das suas fugas mentais, e...por ora, não era.
Então, por algumas horas, ambos ficaram ali, parados, estáticos.
...
A vida tinha lhe sido gentil, finalmente?



terça-feira, 19 de abril de 2011

O Começo.

Parte II - Anjo.



Conseguia ver tudo claramente, como se estivesse dentro de James, podia sentir o que ele sentia, ver o que ele via, ouvir seus pensamentos e até mesmo dar pensamentos a ele. Mas será que ele me notava? Será que ele me ouvia suspeitando de outra pessoa?
Por um momento, olhei em volta. Era uma sala branca e quando olhava para a frente, conseguia ver o que James via, como uma tela.
Mas agora a imagem "freezara", congelara.
O som dos pensamentos era resposto por passos, vários passos.
Depois, o silêncio absoluto.
Agora, essa sala tinha uma porta, atrás de mim.
Uma porta que eu fiquei curioso em saber o que havia por detrás, mas, principalmente por ela estar com a maçaneta mexendo.
Até abrir.
Quando abriu, 3 personagens curiosos foram entrando, não eram alados, eram normais.
Falando nisso, não me sentia naquele lugar especial. Aquele depois de minha...morte?
Enfim.

- Dae manin'. 'Tá mais suave?

Disse um gigante, com um cabelo branco, com uma jaqueta vermelha, calças castanhas e botas afiveladas.

- Erhm...Estou.
Que fazem aqui? Isto é meio pessoal.

Disse, aquilo era meio que uma invasão de privacidade de...suas lembranças.

- Ótimo, outro retardado que eu tenho de aturar. Pff.

Um ser igualmente gigante, se pronunciou, na verdade, o que mudava neles era a roupa, que deste era azul e seu cabelo, que o gigante mais amigável era liso, este que tinha mais raiva na voz, espigado, revoltoso.

- Quietos vocês dois, ele ainda está confuso.
Boas meu jovem.

Agora um homem mais maduro, nos seus cinquenta mas fisicamente perfeito falou com sua grave voz, chegava até a ser detalhista.

- Erhm...Boas. Querem me explicar o porquê de vocês estarem aqui?

- Ah, bem, nós "vivemos" aqui. Ou fomos criados para isto, não sei.
Ainda assim, somos parte desse jovem ai, que você assistiu e tomou rumo, correto?

Se sentia estranho, algo nesse senhor era familiar. Os outros dois também, embora estivessem mais preocupados em demonstrações de afeto familiar, como socos e chutes.

- Como que...sabe disso?

O homem apenas suspirou, ouvindo os socos e chutes dos outros dois.

- Vergil, Dante, parem, por favor?

Vergil, o de azul, estava preso em uma chave de pescoço pelo mais alegre, Dante. Que insistia em dizer :

- Pinico, V, pinico!

Mas logo o soltou, o que fez Vergil resmungar em sussurros, ao ouvir a voz do homem.

- Quão estraga-prazer, Nero. Bah.

Disse Dante, sorrindo para o tal Nero.

- Teu sorriso chega a ser irritante de tão cinico, pode parar.
Enfim, meu jovem, sabemos porque fazemos a mesma coisa, quando somos "chamados".
A diferença é que ele gosta mais de conversar contigo, és o mais..."politicamente" correto.
Eu converso com ele sobre negócios, Dante em lazer, Vergil com pessoas que ele não gosta.
O resto, é contigo.

Minha cabeça estava em água...Afinal, o que era eu? O que realmente eu estava ali fazendo?

- Mas e agora, porque estamos todos aqui?

- Ah, já que James não precisa mais de conversar contigo, aproveitamos para nos conhecer...

Disse Nero, esperando um nome...Mas eu não sabia meu nome, nem sequer isso...

- Erhm...Angelo. Pode me chamar de Angelo.

Finalmente falei, me lembrando de minhas asas, que curiosamente já não existiam em mim.

- Bem, Angelo, bem vindo a sua nova casa. Aqueles dois são Vergil, o de azul e Dante, o de vermelho.
Sou Nero, como Dante disse anteriormente.

- Dae manin', bem-vindo a esse troço aqui. Agora quando ele for no banheiro, tu que trata dele, suave?

Disse Dante, rindo alto.

Vergil e Nero pareciam menear a cabeça.

- Esse retardado é meu irmão, eu sou Vergil. Só não me enche muito o saco como esse escroto que não morre...rápido.

Disse o mais frio, era de ter medo daquele sombrio personagem.

- Mas então somos várias pessoas dentro de um...ser humano?

Concluí, afinal, pelo que eles falavam, era uma vida ali presente.

- Sim, e se ele morrer, morremos também, é assim que funciona.

Estremeci um pouco com isso, não era viável morrer denovo...Mas tinha algo estranho ali.
Eu me vi, morrendo. Já vi isto, já vi o que ele vai fazer só não...Me lembro.

- Então nós "ajudamos" ele a tomar decisões, é isso?

- É.

- Hm.

- Enfim, pense um pouco, ele não vai precisar de ninguém agora, deve ter formado uma linha de pensamento, então se quiser falar conosco, estaremos por aqui.

E por fim, o homem extremamente educado, se retirou, com uma leve referência.

Algo me fazia pensar, afinal, ele, "James", só tinha me visto agora, só tinha falado comigo agora...E os outros anos, quem tratava de minha função? "Das outras coisas"?
...
Tudo era estranho, mas, mais explicado.
Agora, sabia o porque de várias coisas acontecerem.
Não sabia o como e porque estava ali, mas sabia que era algo para lhe ajudar a resolver o passado, a vida, morte.
Quem sabe, eu tenho de ajudar ele a conseguir "Ela".
Essa garota tem a mesma coisa que ele, e eu consegui ver alguém dentro dela...Alguém pedindo socorro.
Mas como socorrer alguém, se eu mesmo estou perdido?...
Não sei, mas vou saber.
E, deitei-me, um estranho sono me abraçava, assim como o jovem de azul e o homem mais maduro, quem parecia acordado era Dante.
Mas não importa.
E assim, dormi, pensando no que eu estava, onde eu estava.
Preso a uma vida, preso a um destino.




O Começo.

Parte II - James.


À medida que os dois gênios duelavam, o sol ia amadurecendo, e de uma brisa agradável, um calor foi sentido. Era 3 da tarde, eles tinham ficado horas a fio se "conhecendo" dentre irônias e línguas afiadas.
"- Engraçado, perdi a hora, não costumo fazer isso."
Disse James lançando um olhar ao exterior da loja.
"- Você se distrai fácil demais. Ou é fácil demais."
Disse Ravena com um certo tom de deboche e provocação.
"- Ahah...Mas então, não ficarei por aqui por muito mais tempo. Almoçaria comigo, Srta. Ravena?"
"- Ah, você está comprando minha companhia, é isso?"
"- Na verdade vou tentar almoçarmos de graça, dinheiro que é bom, está em falta."
Ele riu de sua "pobreza".
"- Um galã barato, com uma aparência no mínimo enfermo e pobre? Pode ser o melhor dia da minha vida..."
James limitou-se a balançar a cabeça negativamente, como se não acreditasse.
"- Quanta raiva de alguém amigável. Tem medo de se distrair fácil demais, é, Srta?"
A garota aquiesceu e como se tivesse ignorado a pergunta, replicou.
"- Bem, hoje eu não ia almoçar tão cedo, mas, já que insiste..."
James deu um longo sorriso, satisfeito com o que adquirira ali. Ele pode sentir um meio trêmulo da mesma, depois uma tosse.
"- Está bem, Srta?"
Ela limitou-se a pigarrear e falou, segura de si, mármore.
"- Pode parar de me chamar de Srta? É chato e inconviniente, já que lhe dei meu nome."
Ele riu.
"- Ravena. Vamos?"
Estendeu a mão, cuja recusada e retraida, dando espaço para a garota levantar-se e ir frente ao caixa.
Sobrou apenas um suspiro e um sussurro, mais para si mesmo.
"- Primeiro as senhoras..."
A garota se recompunha, à medida que andava, um sorriso de James tinha a deixado, mesmo nem ela sabendo o porquê, mas sem ar.
"- Quanto foi?"
Disse a ruiva disfarçada, com um gentil sorriso que nem mesmo James, com tantas horas de conversa conseguiu um sorriso desses.
"- Três e sessenta, moça."
Ela, do bolso traseiro de sua tirou uma nota de cinco e deu à atendente, Ana, que tinha falado o preço.
Claro que James seguia todos os "passos" de Ravena, até mesmo uma olhada rápida para o seu bolso traseiro, o que o fez mostrar os caninos de satisfação.
James seguiu frente a Ana e, sem nem mesmo falar, apenas dando uma nota de dez reais, a garota recebeu e deu um sorriso, cujo foi retribuido pelo de James.
"- Até amanhã, Ana, bom trabalho."
"- Obrigado senh-...James."
Ele riu e finalmente saiu do local, vendo já Ravena a uns passos à frente.
Suspirou novamente e correu um pouco, se igualando à posição da garota, assim como a passada.
"- Você é assim tão "quero deixar ele correndo atrás de mim" assim? É que tá dificil manter o passo, sabe, para não dizer o contrário."
Disse, meio que rindo.
Logo, a garota parou, semi-cerrou os olhos e deu-lhe um beijo na bochecha, repentino.
James ficou estático com os olhos esbugalhados, centrados nela.
"- Você é fofo. E bem inteligente até. Quem sabe eu erre sua bochecha daqui para o final do dia."
Disse ela, contribuindo para o enrubescer do jovem mafim.
O pobre do garoto não sabia como lidar com aquilo, sempre estava no controle, sempre sabia o que fazer e aquelas súbitas mudanças de humor da garota acabavam com ele.
"- Ah, não quer mais ir almoçar?"
Disse ela, com um meio biquinho.
"- Erhm, c-c-claro."
Pigarreou, assim continuando para um restaurante ali perto, se conformando com o que acabara de ocorrer.
A garota sorriu, um primeiro sorriso que quase fez James cair por ali mesmo, mas por algum ato divino, ficou de pé e continuou a andar, retribuindo com um sorriso meio acanhado.

Chegando ao restaurante, o rígido James se soltou um pouco, vendo seu amigo no restaurante, a garota estava andando do lado dele, calada.
"- JAMY, come tu sei il mio amico!?"
James subiu uma pequena escadaria até abraçar o grande amigo Italiano dele, Lorenzo.
O tamanho do corpo daquele gigante era proporcional ao coração daquela criatura. Tinha sido seu pai por ali, cuidara e ensinara quase tudo que sabia a James, mesmo tardio.
"- Ah Lorenzo, vou bem meu amigo. E tu, os negócios, como é que vão?"
"- Bah...Questa mierda è sempre la stessa cosa...Mas "si" tuto vai benne."
James riu, e olhou para a garota, ou Deusa que estava do seu lado, com uma curiosidade calada.
"- Lorenzo, esta é Ravena. Ravena Portinari."
"- AHHA! La Divina Comédia, si? Piacere, signora."
Lorenzo logo pegou na mão da garota e a beijou com seus típicos bigodes de Chef, enrolados.
Ravena parecia se divertir com aquela situação e se pronunciou, finalmente.
"- Grazie Lorenzo, sei molto gentile."
Com um sorriso de tirar o fôlego, ela agradeceu, mas a pronuncia melodiosa dela fez o grande Chef quase chorar.
"- Ah...De Venezzia...Bela Venezzia. Jamy! Por esse presente que me deu, vamos comer juntos hoje, que me dici?"
A pronuncia portuguesa dele era forçada, mas compreensível.
"- Claro, claro. Hoje estou sem dinheiro, os livros não estão lá muito bem também."
Disse James, sincero, o que fez Ravena estremecer um pouco, ele escrevia.
"- Ahah. Sabe o que tu necessità? De una musa."
Ele olhou de relance para Ravena, como um sinal, que ela fingiu que não viu.
Isso fez James rir, sonhar, mas rir, para sacudir a pressão ali.
"- Quem sabe, meu amigo, quem sabe."
"- Mas poi, vou nos preparar una bela massa! Ahah! Felicitá, felicitá!"
Deu dois tapas na nuca do rapaz, uma reverência para Ravena e se retirou, mais leve que parecia.
Restou James coçar a cabeça, como se estivesse meio envergonhado com a situação.
"- Me desculpe com a animação dele. O coração é maior que o seu corpo."
Ela apenas riu, divertida com a situação.
"- Não se desculpe, ele é um amor."
Seu sorriso era pacato, acalmando a euforia que o mesmo sorriso causou a James, era incrível.
E pensando mais claramente, James voltou a si, galã, afastou-lhe a cadeira de uma mesa próxima, para se sentar.
"- Cavalheirismo?Essa é nova."
Ela riu e, após isso, se sentou, ajeitando-se à mesa.
James deu uma leve risada e se sentou na frente dela.
"- Mas...então...Como consegue?"
James perguntou, fascinado.
A garota fez uma cara de quem está confusa.
"- Não estou seguindo sua linha de raciocínio."
"- Isso de...Muito fria, muito quente. Animar, acalmar."
"- Ah, eu te causo algo?"
Fingiu um ar surpreso.
James semi cerrou os olhos, como um falso olhar mortal.
"- Quem brinca com fogo, se queima."
"- Se eu me queimar, nunca mais me aproximo."
Ela falou, seca. Mas ainda assim com um tom calmo e um sorriso no rosto.
James conseguiu estremecer com a indireta, ou direta.
"- Hm."
A atenção da bela jovem foi tomada por Lorenzo, que vinha, pelo cheiro, com suas melhores massas em três diferentes pratos, pôs um para James, Ravena e em um lugar vago, se sentando, do lado de James.
"- Ahah! 'stá massa esta divina!"
Disse enquanto gesticulava um beijo na ponta dos dedos, exclamando a satisfação, com Lorenzo era impossivel manter algum pesar, tristeza ou pensamento. Era alegre demais para atrair qualquer coisa.
E, enquanto comiam, Ravena trocava informações com Lorenzo acerca de sua terra, que, de vez em vez se emocionava e contava histórias de amor, um verdadeiro Italiano.
James ficava calado, entendia italiano, mas não falava muito, então ficou centrado na conversa, mas, principalmente na bela garota que conhecera...Uma Deusa na terra, embora que ele não demonstrasse isso.
E assim passaram a tarde, juntos, falando de tudo e nada.
Com uma doce troca de olhares entre Ravena e James, enquanto Lorenzo gesticulava, revivendo suas memórias, extasiado daquele seu passado.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Começo.

Parte I - Anjo.



A vida aqui era bem mais fácil mesmo.
Não tinha guerra, discordância ou problemas.
A sociedade era perfeita e tinha alcançado seu limiar.
Tanto é, que o homem podia voar.
Mas mais importante que isso, ele podia reviver aquilo que achou que não viveu. Lembrar-se daquilo que achou ter perdido.
E eu, particularmente quero me lembrar de um dia que reconheci alguém, alguém que poderia me mudar, me tocar...Ou me tocou.
Lembro-me da manhã que ia comer fora, de ler óbitos e tomar meu Café.
Mas me lembro principalmente do Encontro com a garota.
E nossa, como ela era...Perfeita.
Ela conseguiu mexer comigo, Dante, Vergil e Angelo ao mesmo tempo.
Nunca teve alguém que conseguisse mexer com um, imagina com quase todos.
Mas não importa, tem coisas que ela disse que quero escutar novamente.
Quero a intensidade emocional a seu máximo, quero me lembrar de um dos maiores dias que eu tive.
O nome dela veio da mesma origem que o meu...não?
Deve ter vindo. Italianos...sempre prezando pela sua cultura.
Mas o melhor não é isso.
O estado da mente dela é quase igual ao meu. Mas ela conseguiu me ver, perfeitamente.
Agora eu, não conseguia acompanhar o ritmo dela...Porquê?
Seria porque eu estava perdido em uma imensidão de pensamentos? Será que o meu sangue estava jorrando para esquentar as mãos gélidas dessa garota?
Não sei.
Tudo que eu aprendi, tudo o que eu ensinei, ela já tinha aprendido.
Ela me leu, é isso?
Ela conseguiu realmente me ler e eu, tão supremo de mim, não vi?
Droga, droga.
Era ela, não era?
Eu deixei-a passar.
Deixei?
...
A praia...Aquele perfume.
Desde que eu me encontrei com o Ceifador, tem sido mais difícil.
Suportável, porém difícil.
Ela pode ser a chave para minha paz.
A chave para saber o porquê da minha morte, não?
Talvez...Talvez se eu...
Mas seu cabelo não era ruivo, era? Era...Castanho. Castanho-loiro.
Aquela sensação de paz, porém, era igual.
Ela sentia por mim. Ela realmente conseguia sentir por mim.
Eu não precisava fingir, ou usar algum amigo para...
Amigo.
Ela perguntou se a cadeira era para um amigo...
Ela...Sabe?
Como ela possivelmente poderia saber?
Mas eu via a coexistência nela, o amor e a mente em perfeita sintônia.
Seria possivel, seria algo almejável humanamente?

Talvez se eu sonhar...Esclarece, talvez.
Segredos que irão se revelar com o Tempo.

Mas...Vou me ater ao que sei.
Estou vivenciando algo que passou.
Com o aprendizado etéreo.
E com vários estados da mente, presentes em duas pessoas, em unissono.
Sinto que estou perto de descobrir algo, mas não sei o quê.
Tenho de ajudar ele, mesmo sabendo que já passou.
Vou voltar, vou tentar trazer tudo junto.
Talvez assim não tenha o mesmo destino mortal, em alguma poça imunda.
Eu vou alterar isto. Eu vou encontrar Ela.
Eu prometi.





































































Aqui está segredos, sonhos e pessoas perdidas na mente do anjo, encontre e esclareça esses relatos, que estão fazendo este sonho do Anjo, virar um pesadelo. Ajude-o. Ajude-me.

O Começo.

Parte I - James.

Segunda-feira.
Uma manhã de segunda.
O sol acariciava lentamente a pele do jovem James.
A pele irritava-se com os raios matinais, assim como sua mente, ao perceber o que aquilo queria dizer.
Acordar.
Logo o despertador iria tocar, e se ele quisesse começar bem o dia, não o podia deixar grasnar.
E foi o que fez, em um movimento preguiçoso esbarrou com o braço no relógio digital, impedindo o gritar das sete horas.
E ficou assim, por mais uma meia hora, até que o sol esbofeteou-lhe o rosto áspero.
Com mil resmungos, o rapaz finalmente se sentou em sua cama, com uma mão tampando-lhe o olho direito, como se quisesse parar a dor de cabeça matinal, mas, orgulhoso, apenas deslizou sua mão até ao cabelo, penteando-o e posteriomente agarrando-se à lateral da cama.
"- Arg...Bem que tu podias me dar um descanso de vez em vez, que tal? "
Disse com um tom rouco de deboche com direito a um "tsc" final.
Após meditar um pouco sobre sua situação caótica, decidiu se levantar rumo a seu banheiro.
Fechou a porta de madeira, trancou-a e se deparou com a pia, torneira e um pouco acima, um espelho.
Não costumava olhar-se muito no espelho, então, se estranhando, passou sua mão desde seu queixo até sua bochecha, sentindo algo ríspido e, no conceito visual dele, grande demais para ficar por lá.
Arqueou sua coluna, fazendo a estalar, olhou para cima, forçando o pescoço a fazer o que sua coluna fez, continuando com os ombros, braços e dedos.
Quando ficou satisfeito com aquilo, ligou o chuveiro, que era a uns cinco passos da pia, dois do vaso sanitário.
Como James, o chuveiro resmungou, mas não tardou a obedecer-lhe e começou a jorrar água escaldante.
O jovem pôs uma mão corajosa no fumacento jato d'água que, curiosamente, aceitou sua temperatura.
Tirou o resquício de roupa que tinha e entrou vagarosamente para dentro do cubículo.
Molhou seus braços, para acordar um pouco, depois entrou por debaixo do chuveiro, soltando um "Ah" de relaxo.
Apoiou suas mãos contra a parede na frente e aproveitou o jato em sua nuca para pensar o que faria hoje, ou se faria algo.
Lembrou-se que nada tinha para comer e que hoje estava curto de paciência para ver o "Mais Você" e logo prontificou-se a tomar a decisão que teria de comer fora.
A ideia de ter de gastar uns extras pela sua preguiça ou falta de paciência lhe incomodava, mas quem sabe o dono de seu restaurante favorito estivesse para isentar-lhe das despesas...Se tivesse sorte..
Passou seu shampoo, condicionador e seu sabonete e enxaguou-se, após isso, desligou o chuveiro, tirou sua toalha e secou seu cabelo e corpo, respectivamente.
Enrolou a toalha em volta de sua cintura e saiu do banheiro sacudindo seu cabelo, respingando água ao redor.
Abriu sua gaveta onde estariam as camisetas e o que viu a seguir foi um deleite aos olhos.
Sua favorita camiseta, um vermelha com toques dourados e pretos.
Um presente dos Deuses, quem sabe.
Vestiu-a com umas Jeans básicas, calçou seus sapatos confortáveis e tratou de tudo para sair.
Não iria de carro, era perto demais.
E assim caminhou uns dez minutos até alcançar onde geralmente comia um bom café-da-manhã.
Cumprimentou a atendente de sempre, que lhe retribuiu com um gentil sorriso e uma indagação profissional.
"- Bom dia Senhor James. Como está?"
"- Bem obrigado, Ana. E porquê insiste em me chamar de Senhor? Sou assim tão velho?"
Retrucou com um sorriso. A garota soltou um suspiro.
"- Desculpa "James", nem todos os clientes que temos aqui são como você."
"- Vou levar isso como um elogio, querida. E não precisa se desculpar."
James podia sentir o tom que clamara seu nome com respeito, mas não era necessário. Ser funcionário daquele lugar onde iria todos os dias era como se fosse de sua familia...Já que nem sua familia o teria visto tanto quanto os funcionários daquele local. Triste, mas não deixava de ser verdade.
E com a réplica do jovem James a garota deu uma leve risada.
"- Ali está sua mesa como sempre, jájá vai sair o café, faço questão de trazer a primeira xícara."
"- Ah, você sabe como levantar minha moral, querida. Agradeço-lhe bastante."
E com um sorriso, James foi até seu localzinho, onde tinha nada mais, nada menos que um jornal o esperando.
James se sentou, observando o local, ele gostava muito deste específico local.
Não era apenas a paz, tranquilidade e o fato "perto de casa" que o atraiam.
Era o pessoal e a música bem fora do padrão de hoje em dia.
Variava de Mozart para AC/DC, mas nenhuma música ruim e incrivelmente, todas tinham um timing perfeito para seu humor.
Após uns parágrafos de óbitos no jornal, como era de costume, James recebeu seu prometido café e logo pôs seu jornal de lado, pronto para tomar aquele forte café que apenas ali conseguia saborear com perfeição.
"- Daqui a meia hora serviremos a comida."
James apenas sorriu como resposta e a garota logo se retirou para seu cabinet para atender outros clientes assíduos dali.
Ela deveria ter uns 18, 19 anos. 5 ou 6 a menos que James.
Relevando isso, James pegou em sua xícara, elevou-a até seus lábios e cuidadosamente bebericou o café, para não se queimar.
Perfeito, como sempre. A excelência neste local era outra coisa que lhe agradava.
Fatias de pão e uma dose de manteiga eram também servidas na mesa, o pão, também, ainda quente.
Com uma faca que se prontava do lado da cestinha de pão, James apenas barrou seu pão com a tal manteiga, deu uma mordida, saboreando ambos e após engolir, deu um gole em seu café, extasiado com a mistura de sabores.
Mas tinha algo, hoje, que James nunca haveria se deparado.
Uma garota, uma cliente nova.
Nunca a tinha visto pelas redondezas, muito menos no local predileto dele.
Seu cabelo era um ruivo bem disfarçado, quase moreno.
Os olhos, embora longe, pareciam cintilar, seus lábios eram supreendentemente vermelhos.
Sua pele era quase albina, não parecia alguém das rendondezas, mesmo.
O único que teria essa cor seria o próprio James.
Curioso, James observara a estranha e sedutora novata.
Vez em vez dava meio ou um gole no ainda quente café.
O interesse surgia crescente em seus pulmões e coração, suas veias pulsavam instinto e, quando não pôde mais aguentar, bebeu o resto de café que tinha em sua xícara e levantou-se de seu lugar até à estranha beldade.

Ela notou a presença do mesmo, no instante que James posou o olho nela, mas foi discreta o bastante para disfarçar, enquanto esperava o café, fingia se maquiar no espelho que trazia na bolsa para confirmar o olhar do curioso cliente que ali se prontava.
Mas o desconforto foi maior quando o viu vindo em sua direção, sair da mesa não era uma opção, quem sabe o afastar com palavras seria mais proveitoso.

O jovem então chegou perto da mesa da estranha "intrusa" e sorriu-lhe com ternura, doce como mel, indagou-lhe.
"- Desculpe-me Senhorita, mas esta cadeira está vaga?"
"- Se for para usar para um amigo seu, ou amiga, está, se for para me incomodar, está muito ocupada."
A garota respondeu-lhe com um tom seco, frio e áspero, quase como se quisesse cortar o assunto pela raiz.
O garoto pôs uma mão no peito, como se alguém tivesse acertado seu coração, brincando, disse com um tom irônico.
"- Outch, essa doeu. Será que hoje em dia duas simples pessoas não podem ter uma conversa saudável acerca do clima e estupidez humana?"
A garota riu levemente com a irônia sentida, talvez o bonitinho não fosse tão estúpido como pensara.
"- Pode sentar. Pensei que minha semana seria aberta com galãs baratos que procuram presas em um café da manhã...Oh...Espere ai..."
Disse com uma irônia ainda mais fria que a do próprio James, juntamente com um falso pensar, o que fez o jovem galã gargalhar. Sentia-se bem com uma conversa agressiva daquelas, a garota oferecia inteligência e isso, para James, era indispensável.
"- Ahah. Não procurava presas...Hoje. Sou galã, sim, mas não barato, por favor. Apenas fiquei curioso. Você não é daqui, é? "
"- Ah! Me diz que não é barato e reconhece uma estrangeira quando a vê. Incrível..."
"- Sou cliente deste café à mais de três anos, quando ele abriu e moro a duas quadras daqui. Não sou nenhum charlatão, Srta, desculpe a desapontar."
A garota calou-se por um momento e olhou para a cadeira vazia, como se estivesse apontando-a.
"- Obrigado."
Disse James, se sentando frente a frente com a garota, com a estranha impressão que a conhecia de algum lugar.
"- Então, estrangeira ou apenas cansou de seu bairro para vir morar aqui?"
"- Primeiro encontro, Cowboy, calma."
Disse a garota sorrindo de lado, debochando-o mais uma vez.
James limitou-se a rir levemente e suspirou.
"- Perdão, perdão. Sou James. Srta...?"
"- Ravena. Ravena Portinari."
"- Conheço esse livro."
"- Pois é."
"- Então...Itália?"
"- Uhum. Veneza."
"- Ah...Bella Venezia..."
A garota riu, mais confortável.
"- A vida está cara demais lá, aqui está mais proveitoso."
"- Sei como é, meus tios pensaram a mesma coisa."
"- Orfão?"
"- Sim."
"- Meus pêsames."
"- Obrigado...Mas não me lembro deles então..."
"- Menos mal, me engano?"
"- De uma forma bem fria, não, não se engana."
Disse James ainda sorridente, porém, meio desnorteado com a sinceridade da garota.
"- Mas me diga, gostou deste Café? Sei que não são como lá mas..."
"- ...A música é boa."
Interrompeu ela, com os violinos Vivaldianos tocando a estação primaveril por trás.
"- Sim. De facto, sim."
Por um súbito momento, a garota se distanciara com a música, e nesse momento James optou por não desfrutar de sua audição e preferiu optar pela visão nos mínimos detalhes, o cabelo extremamente liso da garota, assim como um pescoço perfeito, liso e macio.
Seus ombros eram descobertos pelo vestido que ela trajava, e, em segundos, o sedoso cabelo fora desviado propositalmente para cima dos ombros e busto, como se os quisesse esconder, James olhou mais para cima e enfrentou dois olhos azuis, muito fortes para serem olhados diretamente.
Mas James se concentrou o bastante para não se deixar ofuscar pela luminosidade daquela doce garota.
"- Satisfeito com o que viu, pervertido?"
Disse ela num tom seco, a doce garota fora deixada de lado.
"- Eu não estava..."
"-...Aham."
"- Bah. Não sei para quê tento me explicar."
A garota agora sim, gargalhou divertida.
"- Ai, ai. Homens."
Seu tom frio se tornara em algo como deboche, assim como seu sorriso, como se tivesse propósitalmente desviado sua atenção para a música. James agora sim, se sentia incomodado, ela era astuta também.
"- Sabe, estou me perguntando o que seria mais volumoso, seu busto ou seus lábios. Mas diria que sua astúcia é maior que ambas, juntas."
James disse, num tom atrevido, que levou a garota a ficar com o rosto meio rubro e sem vontade de falar. Era astuta, mas assim como James, não saberia lidar com elogios eloquentes.
"- Touché."
Disse a garota com a voz enfraquecida, ainda rubro.
James deslizou sua mão direita em direção à dela, que ficou petrificada ao ver a dele.
Agarrou-a, sentindo a mão frágil feminina gélida, não sabendo o real porquê da temperatura.
"- Perdoe-me, foi deselegante e bastante rude. Mas você é bastante travessa com as palavras."
A garota entrelaçou os dedos com os de James, e olhou para essa cena em particular.
Ela usava o polegar para acariciar levemente a mão entrelaçada de James.
Com isso, o jovem ficou estonteado e, deveras nervoso. Seu rosto agora ficara vermelho.
"- Não são só com as palavras, querido."
Era uma perfeita atriz. Era perfeita.
James quase cedeu à provocação, mas o ego dele inflava, inflamava.
Então levou a mão da ruiva até seus lábios e beijou-a levemente, provocativo, após isso lentamente desenmaranhou-se da astuta mão da garota.
O desnorteamento da bela moça era palpável.
"- Enfim...Pode considerar um Bem-Vinda ao bairro?"
Disse ele com um sorriso de orelha a orelha.
"- Bastante fraco, mas considerarei."

Era óbvio que não daria o braço a torcer, nenhum dos dois daria, na verdade.
Então nessa manhã, James e Ravena continuaram se duelando amigávelmente, medindo suas forças e mentes, mentes essas que estavam curiosamente conectadas.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Esclarecimentos.

A Percepção.



Lembro-me de minha vida.
De minha morte.
E de meu encontro com....comigo mesmo?
Sim, acho que é isso.
A principio estava confuso, não sabia quem era, onde estava ou até mesmo o porque de estar aqui e, confesso que estou surpreso.
Não assustado, neste lugar é impossivel ficar assustado.
Aliás, neste lugar se sente uma estranha presença apaziguadoura, como aquela sua casa de sua infância, onde no escuro quando tudo parecia mau, se escondia por debaixo dos cobertores, sabe?
Enfim, é estranho e tudo...limpo.
A única coisa que tem de estranho nas pessoas (para não dizer um deleite aos olhos) são grandes e lindos extensores alados. Asas.
Não é um mundo à parte, vou lhe confessar, mas é tudo mais pacifico. Todos concordam com as decisões dos outros, ideias são apresentadas e calculadamente pensadas em unissono.
Nunca ser igual foi tão...reconfortante.
Não era preciso aquela necessidade de se sentir especial. Não precisava chamar a atenção.
Todos se conheciam, todos sabiam quem eras e que tinhas feito com apenas um olhar.
A principio me deixava incomodado, tudo que eu fiz...Tudo que eu desperdicei.
E a morte, a minha horrivel morte.
Não pela brutalidade, mas pela inutilidade em que me senti depois que meu sangue se esvaia de meu corpo.
Eu tinha tudo.
Naquele mundo onde eu achei que o dinheiro viesse com a felicidade (E não lhe minto, vem, com suas consequências.), naquele mundo que eu amava por sua superficialidade, aquele mundo tão facilmente reconhecivel para mim, aqui, todos eram iguais a mim.
Os pensamentos ecooavam por minha mente, eram várias portas abertas.
A principio também não conseguia pensar, a dor era sufocante, os pensamentos e vidas de terceiros passando por diante de meus olhos, os erros deles (tão parecidos com os meus).
Pensei, egoísta, que fosse o Inferno.
Morte, culpa, aquele tão familiar poço de solidão.
Nunca devia ter me isolado, sabe? Todos almejam por isso, mas os que conseguem são miseráveis em sua própria existência.
Claro, os que não sabem como isso é jamais verão a minha miserabilidade.
E até sinto pena de não a verem.
Queria ser um exemplo sabe?
Mas como os acordos da mente são...perfeitos, a minha mente criou um jeito bem peculiar de se defender.
Aprender a sentir.
Aprender a sorrir quando devia, ficar triste quando devia, irritado (sem mesmo ligar para o assunto).
Tua mente se programa para isso e, então vira um robô.
Não um daqueles robôs de escritório que tanto tentam te apunhalar por dinheiro, não, isso é a humanidade em si. Ahah.
Um robô com uma inteligência descomunal.
A habilidade de menosprezar qualquer tipo de sentimento a não ser a vergonha e/ou aquele sentimento de estar nervoso.
Sim, a mente controla o coração de se manisfestar, mas, como eu aprendi há não tanto tempo atrás, o coração tem uma necessidade de se manifestar, de pulsar por teu corpo e tomar a frente.
É um sistema complicado que como consequência você só sente a vergonha e nervosismo.
Um preço muito baixo, comparado ao que acontece depois (já que você pode escolher ignorar essa vergonha e nervosismo, com prática).
O que eu quero dizer é que nós todos estamos aqui por nossos erros em comum.
Para todos nós aqui, seres alados, foi nos dado uma "habilidade" fora do comum terreno.
A capacidade de ver as pessoas como elas realmente são.

A visão além da pele, rosto, cabelo. Uma aura, como dizem.
Mas todos cometiamos os mesmo erros por ser, humanos.
E até mesmo disseram que era impossivel qualquer humano não fazer esse "trato" com a mente.
Afinal, quem é o ser que gosta de ver a falsidade em todos que passa o olho?
Aquele traço, vestigio de sujeira oculta por tantas mentiras.
Que ninguém saberia, menos eu.
Nós.

Várias vezes eu pedia para deixar de ver isso. Minha solidão apenas se extendia com a desilusão que ostentava em qualquer ser humano que pousasse o olho.
Mas a mente agora fazia partidas para não se desgarrar daquelas novas "habildades".
Ela mantinha um foco.
Um objetivo.

Ela.

E...Eu continuava lutando. Sempre lutei.
Alcancei grandes coisas, além do que almejei.
Mas era por ela.
Pela esperança de que, algum dia, eu pudesse voltar a sentir.
Sentir aquilo que eu tinha desejado não sentir e que foi nos imposto a todos.
Amor.
Eu, tão egoísta, reneguei a única coisa que eu tinha de puro em mim.
A única coisa que me ligava com outras pessoas. O amor.
E dai, a ausência de sentimentos.
É triste, fácil de se viver a vida, claro.
Mas terrivelmente triste.
Porque, você sente mais do que todos sentem.
Eu sinto mais que todos.
Quando a agônia da morte familiar ecoava na salas facilmente reconheciveis de um hospital local, a minha agônia era duplicada em minha mente (não em meu coração, a esta altura tinha virado pó), pois eu tinha a agônia de não sentir nada por um ente querido meu e a agônia de agora ele não estar entre nós.
Era...horrível.
E agora sim, um preço justo por o estúpido acordo que fiz.
O restício de coração que eu tinha servia apenas para bombear veneno lúcido para meu corpo frágil.
Mas...então isto é o Inferno.
Pagar por não ter sentido.
Pagar por ter renegado o amor. Pagar por apenas ter cuspido no prato que comia.
Acho que é por isso que me sinto bem, pagando esse débito.
Sim, eu aceito o castigo. Sei o que fiz e não me importo de ser punido.
Mas Ela.
Ela era real.
E me salvou. Como aquela...Luz no fim do túnel, sabe?
Sim, Ela me salvou.

Não foi fácil, admito.
Sabe, como um paraplégico que deixa de usar suas pernas e milagrosamente as recupera, ele não vai andar como deveria.
Ele vai reaprender a andar.
E sentir umas dores casuais de seus músculos não usados.
Como o coração, só que umas dez vezes pior.
Quando não se sente porque se OPTA não sentir, o revide é muito pior.
Como um castigo sobre um castigo.
Ou os juros de um acordo que tinha prazo e você não o cumpriu.
A melancolia volta, os sonos nunca são quietos.
O pulmão não aguenta o quanto ar você respira perto dela.
A cabeça dói, de pensar menos.
De ser menos utilizada e sim, fica mais leve.
O coração finalmente se rebela, jorrando sangue quente, porque não, Lava para seu corpo agora forte.
As dores são facilmente suportáveis mas apenas com o pensamento Nela.
É como uma doce anestesia.

E...Eu não desisti.
Eu disse que não desistiria.
E acho que estou aqui por isso, ainda não sei.
Mas pretendo conseguir as respostas, com calma.
Por enquanto, vou viver na igualdade de pensamento e paz.
Sim, verdadeira paz.
...
Mas teria sido mais fácil e proveitoso se eu não tivesse errado nesse trato.
É o meu conselho.
Não o repitas.

Porque...podes não ter a mesma sorte que eu e simplesmente ignorar quem te faz bem.
A mente faz questão de fazer isso, e eu sei como.
Quem sabe eu explique, se me lembrar.



Por ora, vou viver nesta morte.
Mas por favor, não morra nessa sua Vida e...viva-a.




domingo, 20 de fevereiro de 2011

Encontro.

- James! Raios James, distraido denovo?!
Dizia ela, enquanto o jovem garoto olhava para a janela, desviado por algo gotejava constante na vidraça, chuva. Todos destestavam.
- Ahah. O Gasparzinho Obeso 'tá biruta denovo.
O estrondo de risos encheu o garoto branco e excessivamente gordo, de raiva e vergonha, uma mistura que, naqueles tempos era normal para a aparência daquele vago garoto. Sua branqueza se misturava com um tom rubro, não determinando o sentimento que mais fluia em seu sangue.
A sala era pequena, fria pelos ar-condicionados que ambientava com o sangue daquelas risadas infernais, tinha televisão no canto da sala, usada para "Incursões Digitais".
As cadeiras eram as únicas coisas que o jovem James se confortava, eram macias, embora resmungassem com um chiado metálico quando se mexia demais.
- Desculpe professora, se sua aula de Inglês medíocre, para não dizer excruciante de tão má que sua pronuncia é, e meia tonelada de juventude desperdiçada, com merda de gaivota na cabeça não me satisfaz a atenção.
O garoto vociferou, se virando para a professora, sua voz era mental, como se quisesse falar telepáticamente com aquela professora, os olhos, puros como aqueles que esperavam o Papai Noel, seu sorriso ingênuo cobria a dor que sentia.
- Bem, continuando...
Agora essa imagem era retomada agora por um sala mais cadente, com um ventilador de teto e os alunos longe de garoto que, agora parecia bem diferente.
A aparência do agora adolescente James era esbelta, então tudo que sobrou foi apenas um garoto aparentemente magro, com um grande cabelo fino e caido olhos assustadoramente neutros, para quem realmente os olhasse.
Eles percorriam ser atrás de ser, vendo se algum daqueles realmente prestasse, mas era inútil, se sentia só. Não se apercebia disso, mas um sentimento vago se preenchia em seu coração, como uma gélida estava.
- Profê, esse cara tá fedendo denovo, pô.
Umas manchas de suor em volta dos braços do garoto gritavam como provas do mau-cheiro. Seu metabolismo agora era a todo o vapor e, bem, o odor que transmitia era bastante forte.
Mais uma risada fora iniciada, e o jovem James mais uma vez foi mandado para a Direção e da Direção para a Psicóloga, onde o orientava a se lavar mais frequentemente, usar algo como...Desodorante? É, isso.
Essas vagas imagens agora passaram para algo entre as duas salas que teve, embora que agora estava rodeado de pessoas que, tão atentamente o escutavam, mas escondiam perante o raivoso Cláudio.
- JAMES! SAIA JÁ DAQUI!
O garoto, impressionantemente diferente, se levantara e fizera uma breve reverência ao Professor de Literatura.
- Ah, caro Neanderthal. Vocifero, senão sussurro com meu conglomerado acerca de sua nobre matéria que, de facto me anima de emoção, porém, com metodologias tão entediantes que tive de me apressar a meus bons amigos para explicar o que raios vosmecê falara, mas sem todo o ronronar de um hipopótamo.
Novamente um estrondo de risadas que agora preenchiam o garoto com um sorriso pontiagudo, ressaltando os caninos brilhantes que transformavam esse sorriso em um sorriso completamente irônico, quase que zombando da situação em que foram convocados.
- SAIA!
E pela incontável vez, o jovem saiu.
Agora o adulto James se via em algo áspero, irritamente familiar.
Uma cama que acalentava e enervava James.
A imagem de sair era sobreposta pelo som de rasgar de ondas e areia, as antigas cantigas de gafanhotos e grilos, a imagem em si era, agora um vasto manto azul escuro com pontos brancos, uns piscando e, uma grande rodela branco-prateada cortada, como se sorrisse veemente.
O riso rouco de James se juntava com os estalos do seu corpo, à medida que se sentava.
- Ah..Que tempos.
E que tempos foram, foram tempos que o tornaram assim, tão passivo e adaptativo embora que, nunca fosse inteligente em um modo literal.
Era algo bem mais profundo, quem sabe, filosófico.
Tempos que mudaram a face daquele inocente rosto, para um magro rosto com olhos pretos, que se tornavam castanho-mel com a presença do sol.
Havia estado ali, descansando em um praia perto de casa apenas para pensando em seu futuro e, inevitavelmente, a natureza o puxou para um cochilo.
Nada de grave, afinal, ainda tinha seu celular e carteira, o que era bom, já que sentia seu coração pulsar, nada das três coisas o tinham assaltado.
Massageara a nuca com mãos ébrias, arranhava também, por causa da áspera areia.
Soltara um grande suspiro.
- James, james. Estás aqui faz um dia e não decidiste nada a não ser com o que sonhar.
Riu um pouco, mesmo sem a mínima vontade de rir.
Fez-se silêncio e a brisa bateu no rosto recém-barbeado de James, o que fez seus cabelos soltos, embora curtos, esvoaçarem um pouco.
- Loção Hugo Boss? Nossa, amo os perfumes dele.
Disse, uma melodiosa voz e, estranhamente, profunda conhecedora de cosméticos.
James ficara alerta, mas não se virara para essa voz, sabia que podia se arrepender. Se arrepender amargamente.
- Sim, sim. Belo olfato.
E sou um ótimo usuário de tato, também, posso me virar?
Disse, sentindo a gelada ponta afiada de algo, sabia que ia se arrepender de virar.
- Ah, claro que pode, sabe como é, uma garota sempre tem de estar previnida.
Disse, com um tom de mel, divertida com a situação.
- Bem, só vivi como homem até então e, bem, nunca vi nenhum estuprador com loção da Boss.
O rapaz se virou, surpreendido com uma imagem que logo o tirara fora daquele espaço térreo.
Era uma bela moça, seus lábios estavam preenchidos com uma tonalidade anormal (embora amaldiçoadamente provocativa) vermelha. Um rosto visivelmente macio, como se o próprio vento deslizasse uma mão em suas rosadas bochechas, querendo-a acariciar. Seus cabelos morenos à luz prata quase tocavam na areia, embora estivesse ajoelhada. Seus olhos eram indecifráveis, ao mesmo tempo tão sedutoramente enganadores, para falsos conhecedores de personalidades.
Era o limiar de uma divindade, o ar escapou dos pulmões ainda jovens de James, ele tossira.
- Ah, não sei 'né. Vai que existe um novo tipo de estupradores, uns galanteam uma jovem donzela e depois a largam...Ah, é...Já existem.
Disse com uma notória tonalidade de irônia, brincando com o alvo atordoado.
Mas James era orgulhoso demais, um lampejo em seu olhos se formara como um desafio, e ela era uma deliciosa adversária.
- Bem...Você tem certeza absoluta que conhece todos os tipos de criminosos...Eu poderia me vestir bem só para dar a impressão que poderia ser alguém tão...superficial.
Um sorriso malicioso se formara em seu rosto, como alguém que quisesse tão desesperadamente água e essa uma pessoa estivesse no caminho. O galã pôs suas mãos na areia e avançou sobre ela, enquanto falava sedosamente, como um lince seduzindo sua presa antes mesmo de a abraçar em um Beijo da Morte.
A garota ficou com feições assustadas, não que não suspeitasse que ele fosse realmente um criminoso (por mais bonito que fosse) mas porque se sentia igualmente atraída, como aquela última colherada de sorvete no pote.
A garota mordeu levemente o lábio inferior, apenas se distanciando à medida que o predador avançava.
- Erhm...Agora confesso que estou confusa mas...Quem sabe eu não sou alguma espécie de...Sereia, que apenas canta para te deixar...Afogar.
A presa falava, como uma estaca gelada pronta para se impelir contra o peito do tal predador, seus olhos olhavam fixamente nos dele, como se quisesse o hipnotizar...Afogar.
O jovem se sentiu arrepiado com tal sutileza de, novamente, a inversão dos papeis.
Vira que a garota simplesmente parara de fugir e se deitou, à medida que seu jovem marinheiro se afogava na própria perdição...Mas James não era qualquer um, James não era apenas o marinheiro. Raios! Ele era (ou poderia ser) o melhor dos capitães, embora aquela, de tão divina, parecia ser a Deusa dos Mares.
Aquele irromper do espaço, aquele duelo de titãs lentamente ganhou um ar de contos que apenas o mais românticos imaginavam, o garoto estava por cima dela, seus lábios quase sentiram o gosto de sua sedutora paixão como a maça das hespérides, algo que o daria imortalidade e imunidade de tudo...Mas não se deu ao luxo, pois um jovem e fraco mortal como ele, facilmente morreria se provasse algo tão divino e, apenas sorriu, o que fez os lábios de ambos, se arranharem em agonia.
- Você é boa.
Minto, você é muito boa.
Disse com sua sedutora voz rouca, o jovem aventureiro.
Apenas respondeu com um sorriso, que novamente despertou um intenso latejo, como uma ferida aberta. O jovem recuou diante a bela Dama e ofereceu-a sua mão, para ajudar.
Como alguém saída dos anos 40, uma bela dama.
E, seu rude amante a puxou para perto, como se fosse morrer se não tivesse aquele rochedo. Aquela sereia.
E o nobre capitão, confiante de sua viagem, apenas deu-se ao luxo de pronunciar algo, algo que até poderia ser escrito nas estrelas, mas apenas ele entenderia.
-"Se eu vagasse pela eternidade, na eternidade te encontraria."
E isso pareceu o bastante para a garota que, como se conhecessem à séculos, aninhou-se em seu peito, sentindo batidas que pareciam nunca mais pudessem ser ouvidas.
O som das rochas se espalmando contra as ondas era escutado, a irritante áspera areia era sentida. Mas no momento, nada parecia ter importância, a não ser isso.
A eternidade.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Esclarecimentos.

Algo Quebrado.


Nada de manhã, tarde ou noite. Não tinha céu ou chão.
Falando a verdade, não tem nada.
Não existe emoção, sentimento ou até memórias.
Nada.
Aqui é o vácuo, o nada com tudo dentro. É um grito de um poço fechado, abandonado.
É aquele murmúrio do vento, um meio assobio.
E sendo sincero, acho que nem isso é.
São meus pensamentos, aqui redigidos.

Aqui nada faz sentido, na verdade. E, justamente por isso, parece uma verdade inquestionável, porque nunca pensaste nisso, até alguém o digitar.
Aqui é meu mundo, não o teu. És bem-vindo a ver-lo, mas garanto-lhe, não o mudarás.
Porque, por mais que tu saibas aqui, lá fora eu te negarei tudo o que achas que sabes e tu ficarás imerso de dúvida.
Os sonhos, são de minha vivência, necessidade.
Os anjos, são meus protetores.
Os meus amigos, são partes de mim.
Sempre precisarás de um sonho para seguir em frente, podes não dormir, não querer ou gostar de dormir...Mas sempre irás gostar de um sonho, eles não são só "coisas" de nosso cérebro, são medos e desejos que nós tivemos ou teremos.
São o futuro que podes ou não destruir. São almejos ou decepções.
Os sonhos são algo que ninguém te poderá tirar e, na verdade, sobrevivi bastante com eles.
Quanto menos sonhos tens, menos feliz és, sendo até um vice-versa. Verás que quando te deitas incomodado com algo, teus sonhos sempre tendem a te alegrar, mas como nós, seres egoístas que somos, sempre acordamos com insatisfação, e não lhe culpo, ainda te digo algo :
Segue isso.
Não aches que é apenas uma coincidência, algo que apenas viste por veres. Quando olhares um retrato que te pareça familiar, desafia-te a buscar em tua mente se realmente sabes quem é.
Sonhos não só são sonhos, mas algo mais. Algo que ainda não entendemos.
Assim como os anjos. Que tantos buscam.
Buscam de maneira errônea, porque só querem ser ajudados, mais uma vez, egoístas.
Anjos não têm divergência, não tem bom ou mau. Eles são justos.
Sempre prezando por ti e mesmo assim, justos.
Eles não te ajudam a levantar, eles te ensinam a levantar.
Eles não te limpam as lágrimas, eles te fazem lembrar porque não deves chorar.
Eles não te acalentam a alma, eles apenas te fazem ver o quão és bom sendo...tu.
Anjos são reflexos, porque não dizer são nosso sexto sentido.
São eles que te fazem divagar quando tudo parece perdido.
O meu me ajudou quando o tentei repelir.
Ele me fez lembrar de meus amigos.
Fez me lembrar de situações onde meus amigos tomaram parte de mim. Lembrei-me da frieza de um, do coração de leão do outro.
Da astúcia, da inteligência e sabedoria.
E mais uma vez digo.
Sempre serei e fui egoísta.
Nunca, nunca saberás o que sou, ou se sou algo.
Mas isto te garanto, eu passei por ti. Eu te causei medo. Tristeza, alegria.
Estou sempre do teu lado, como aquela sensação de que alguém te observa. Sou aquilo que não entendia em um plano térreo.
Sou algo mais...etéreo.
E não, não me poderás negar, porque sou parte de ti.
Queiras ou não.
Sei como os teus sorrisos se estendem, sei o que as curvas em seu rosto mostram.
Sei o que teus olhos gritam em me dizer, te vejo querendo sair dali, como se a vida não fosse nada, como se fosse reciclável.
Sei de teus problemas, de teus alcances.
E sempre te esperei, sempre vou te esperar.
Esperarei aquela que me dominará o ego com simples palavras, ironizadas pelo puro divertimento.
E meus eu's vão me ajudar, assim como os amigos que me carregam, sem nem se aperceberem.
Sou apenas uma bela imagem, um belo espelho de todos, e admito, sempre precisei de tudo e todos, mesmo negando.
Por isso digo que sou egoísta.
E que nunca saberás o que sinto.
Então isto é um...Memento.
É um Memento para que não reste duvidas, não vivo sem tudo o que eu pensei que viveria sem.
Eu sou isso, sou tudo isso.
E quanto a ti.
Sim, tu, que tanto enches meu coração de esperança e inspiração para simples frases sentimentais, sempre irei te esperar.
Posso me magoar, ganhar cicatrizes, morrer.
Mas...
...


Nunca desistirei de Ti, então te peço, não desistas de mim.



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Segredos.

O Anjo.

Uma sala vazia.Branca, sem nada ou ninguém dentro a não ser alguém completamente contraído.
Sua pele era no mínimo similar a tal sala, como se fosse projetado para ela.

"- Deixe-me em paz, por favor."

Saía, uma voz maculada de tristeza, masculina.
Passos agora eram-se escutados, trovejantes, uma outra voz, igualmente grave foi ecoada pelo local, que aparentava não ter fim, pela ilusão de branco por todo o lado, na verdade, aquele visual macabro de onde vinha os passos parecia um Anjo Negro, porque não, um Ceifador que flutuava no igual piso embranquecido.

"- E como pretendes ficar em paz? Tentando esquecer, tentando apagar tudo que aprendeste, é isso? Ignorando o fato que sou..."

"- PÁRA! JÁ! EU TE PROÍBO!"

Interrompeu o outrora penoso rapaz, descobrindo seu rosto marfim que antes se apoiava nos braços cruzados sobre as pernas dobradas.
Seu tom era agressivo e amedrontador, seus olhos, vermelhos de, talvez, raiva que sentira agora.
O Ceifador era nada mais agora que um ser dócil, mudo pela ordem de seu dono.
Embora que, seus olhos não demonstrassem qualquer emoção, fixavam-se no jovem garoto como se esperasse algo.

"- Tu...Nunca, jamais serás algo perto de mim. Nunca serás nada. Não sairás daqui, te proíbo. "

O Ceifador se sentou, agora com a face mais serena que já alguma vez presenciei.

"- É uma lástima, sabes. Não aceitares isso. Estás te destruindo.
Já olhaste ao redor? Vê o que tu tens. Eu. Nada. Somos a mesma coisa, sabes.
E mais, tu que quiseste saber algo mais, tu quiseste saber os Segredos de algo que geração alguma poderia superar. Tu quiseste saber algo mais e agora o tens. A única coisa que tens de fazer é te aceitar.
Não é nenhum enigma, ambos sabemos disso. Estou te cuspindo a resposta."

Falou como se o garoto entendesse cada palavra que era pronunciada, e as veias que eram denotadas no pescoço desse garoto confirmavam isso. O garoto apenas ficou o encarando, como se o quisesse fazer sumir, como quisesse trocar, parar aquilo.
O ambiente branco se distorcia à medida que o garoto se concentrava no Anjo sombrio, como paisagem, o garoto fez passar imagens de várias situações, gritos de desespero eram ecoados naquele espaço, mas nenhum dos dois parecia se importar, ou até mesmo ouvir aquilo.
Agora, o ambiente era pesado, o chão era coberto com uma fina camada de algo vermelho, vermelho-sangue...Sangue.
As paredes eram escuras, cinzas, pareciam estar vivas e, pelos sussurros, perdidas.
Os lábios do tal Anjo se descolaram, por fim se pronunciando e estranhamente cessando todos os sons do ambiente.

"- Sabe tão bem quanto eu que isto para mim é neutro. Tudo isto foi criado por mim. Na verdade, por ambos. Toooodos os Seus e Eu, criamos isto. É um preço para te manter assim, com a mente sã. "

Gemidos de dor, sussurros por perdão, gritos de agonia eram quase que sentidos na alma depois que o tal ser divino falou, então se deu vez ao garoto que igualmente parou todos os lamentos.

"- Mente...Sã? SÃ? OLHA A TEU REDOR! Tu me trouxestes isto. Eu não consigo ser alguém normal, não consigo ver sem...VER! Eu só quero paz...Eu entendi a lição que me deram, eu entendi o mal que está em todos, mas...droga, não.
Me recuso a ser alguém, aliás, a ser ninguém. Me recuso a entender tudo por demais, me recuso.
Quero me cegar, quero parar, faz isto parar..."

O som ambiente agora era só preenchido com o choro desse rapaz, cujas lágrimas eram escondidas pelas suas mãos que cobriam seu rosto, o chão agora era apenas destacado por um sangue seco, não mais um camada. Uma fina chuva era sentida.

"- Existe coisas que são dadas aos que temos mais fé. Fé que não podemos perder, ou nos perder. Sei que sou bastante inaceitável para teres fé em mim, então, faz isso por Ela. "

A chuva se engrossou, o som chuvoso e familiar era reconhecido, quase que palpável de tão melancólico. Trovões eram ressoados por todo o local.

"- Eu...Mas e se eu me perder nisto, se Eu não souber como e o que fazer na situação? E se ela tiver passado por mim, sem que eu tenha visto?! Eu quero Ela, só Ela, por favor. Cansei de procurar, estou perdido, preciso dela..."

"- E vais encontrar-la."

O agora augúrio continuou.

"- Vais saber, vamos saber."

Então o pacífico Ceifador dirigiu-se ao garoto, com pequenos passos que afastavam as poças que ali eram criadas pela chuva. Seu cabelo estava encharcado e por mais que os trovões iluminassem o Ser sombrio, não se via seu rosto.
O garoto ainda relutava, mas agora olhava com um misto de confiança e tristeza, suas lágrimas eram misturadas com a chuva cadente.
Todos os Segredos que o garoto havia aprendido só o traziam clarividência sobre as coisas, uma visão diferenciada de tudo. Das pessoas.
E tudo que ele via era simplesmente desesperador. Seu coração não aguentava mais ter de ver tanta...desumanidade.
Mas ele se sentia mais confuso por interpretar um papel desses, alguém que aprendia a ser um...Humano.
Alguém que chorava e sorria em típicos momentos. Esse jovem marfim se confundia pelo simples fato de sorrir...Mas não sentir o porque de sorrir. Sorrir porque foi educado a isso, viu uma situação comum e fez uma análise quase que...fria. Despojado de qualquer "coisa". Sentimento.
E ele queria sentir...Queria poder sorrir porque nada o obrigava a sorrir a não ser a simples vontade. Queria chorar e afagar a face de quem estava em cólera, sentindo a angústia do outro.
Ele queria ser o que via ao contrário nos outros seres "humanos".
Isso lhe confundia e desesperava.
Esse Anjo prometia-lhe algo que não podia recusar. Alguém que não podia negar.
Algo que não podia, não conseguiria refutar.
Ela.
E quando tudo parecia perdido, quando tudo voltasse ao pó, Ela estaria lá.
E finalmente, depois de um longo ponderar o garoto estendeu sua frágil mão em direção ao Anjo.
O Anjo ficou estático, mas segundos depois estendeu a mão.
Quando finalmente ia tocar, apertar e ajudar aquela frágil mão, um trovão foi novamente ouvido e iluminando agora tudo.
A face do anjo...Marfim.

"- Só podemos passar isto juntos, se te aceitares. "

E com aquele raio, tudo sumiu. Restando apenas aquela tela branca, sem nada para indicar seu começo ou final.
Seu nome era........


Uma sala vazia.
Branca, sem nada ou ninguém dentro a não ser alguém completamente contraído...






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